Revista de Nossa Senhora
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Não celebro MISSAS…

Publicado em 25 de abril de 2014 / Reportagens >

interna1Segunda-feira de manhã. Entro na padaria para comprar uns biscoitinhos. A jovem balconista me dirige um olhar interrogativo. Cria coragem e pergunta:

- Foi o senhor quem celebrou a missa ontem à noite, não foi?

Com um meio sorriso, respondo:

- Não foi missa, não é? Foi uma celebração da Palavra…

É claro que a jovem ficou meio enrolada, pois grande parte dos

fiéis não faz nenhuma diferença entre duas realidades tão díspares: a Eucaristia plena, com ofertório, consagração e comunhão, e uma reunião em torno da Palavra de Deus, na ausência do sacerdote.

Lembrei-me de um artigo da teóloga Maria Clara Bingemer, no qual ela citava o depoimento de uma senhorinha que participava de uma comunidade rural:

- “Aqui, nóis tem a missa do padre e a missa da freira… Mais nóis prefere a missa da freira!”

Na verdade, o engano dos fiéis é favorecido por um desvio litúrgico muito comum: utilizar o mesmo folheto da missa, seguindo passo a passo os mesmos elementos que compõem a missa, sem excluir as partes típicas da Liturgia Eucarística. O moderador ou animador leigo chega a ocupar indevidamente o altar – exclusivo do Sacrifício da Missa! – e assume gestos e palavras exclusivamente presidenciais, como certas saudações e fórmulas de despedida.

Questionado por incluir o cântico processional das oferendas em uma celebração da Palavra, o ministro leigo retrucou:

- Mas, se não tiver ofertório, como vamos fazer a coleta? (sic)

Em nossa paróquia, os ministros extraordinários da Palavra foram muito bem orientados. Tiveram acesso ao texto da Congregação para o Culto Divino que trata das celebrações dominicais na ausência do presbítero (Ed. Vozes – Coleção Documentos Pontifícios, nº 224). Ali se aprende que, quanto mais a celebração da Palavra se parece com a missa, tanto pior!

Aprendemos que as passagens presidenciais (como a oração do dia ou após a comunhão) passam para a Assembleia, na ausência do sacerdote, mas não competem ao ministro leigo isoladamente.

Um recurso prático para distinguir entre a Santa Missa e a celebração da Palavra consiste em “remexer” com a ordem dos elementos da celebração. Por exemplo, deixar o Hino de Louvor para depois do Evangelho. Ou ainda, adiar o Ato Penitencial como preparação logo antes da Comunhão. Durante os anos em que fui redator de um folheto específico para celebrações da Palavra, sob a supervisão do Pe. Paschoal Rangel, na Editora O Lutador, recorri habitualmente a esse procedimento.

Como ensina o Documento citado, “o leigo que orienta a reunião comporta-se como um entre iguais”, como sucede na Liturgia das Horas, quando o ministro é leigo: ‘O Senhor NOS abençoe’… Não deve usar a cadeira presidencial, mas outra cadeira, fora do presbitério. O altar servirá apenas para os Ministros da Comunhão depositarem as espécies consagradas antes de sua distribuição.

Estas recomendações são datadas de 1988. Ao que parece, poucas comunidades foram informadas…

Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança