Revista de Nossa Senhora
  • Administração: Rua Angá, 994 – VI. Formosa – São Paulo – SP
  • Telefax: (11) 2211-7873 – E-mail: contato@revistadenossasenhora.com.br


A CEIA PASCAL e o anúncio da traição de Judas

Publicado em 2 de junho de 2014 / Reportagens >

Jesus breaks the breadO inesperado e o imprevisto:

Os evangelhos dedicam vários capítulos para apresentar o relato da Paixão e Morte de Jesus. É uma descrição dramática e envolvente. Cada momento vivido por Jesus é denso e ao mesmo tempo de uma profundidade imensa. O Filho de Deus começa a seguir de forma definitiva, agora, o caminho da cruz. O inesperado acontece. Ninguém imaginava como poderia se concluir este fato. É impossível descrever o que se passa no coração do Mestre. Tudo vai culminar na entrega total ao Pai, lá no alto da cruz. Acabam-se os discursos de Jesus. Chega à hora de sofrer em silêncio.

Lideranças que provocam morte:

Os evangelhos põem em relevo o papel desempenhado por Caifás, que era genro de Anás. Caifás foi Sumo Sacerdote, isto é, chefe supremo do templo de Jerusalém e presidente do Sinédrio entre os anos 18 a 36 de nossa era cristã. Eles associam os anciãos do povo aos sumos sacerdotes; isto é, aqueles que tinham mais influência na casta sacerdotal. Então se reúnem as “lideranças perversas” para decidirem à prisão e execução de Jesus. Pensam até em marcar uma data para isso, mas a festa da Páscoa devia ser celebrada em paz e qualquer tumulto popular provocava a repressão por parte dos soldados romanos. O medo das lideranças supõe que o povo que seguiu Jesus não estaria de acordo com tal decisão tomada na clandestinidade e combinação diabólica.

Ao escurecer já começava o novo dia:

Treze pessoas era um número aceitável para uma ceia de páscoa; normalmente era só a família que se reunia para tal evento, em torno de cinco a dez pessoas. Os doze com Jesus têm agora um sentido novo: o novo Israel celebra a nova Páscoa. A família de Jesus agora são seus doze discípulos.

Os lugares à mesa:

Jesus dará “sua carne e seu sangue” para a vida do mundo. Os lugares à mesa eram ocupados conforme o critério de idade. Esta ordem era observada de forma escrupulosa. Jesus quebra esta ordem, colocando João ao seu lado, o mais novo; aquele que no dia seguinte estaria aos pés da cruz, com Maria. Daí a discussão entre os discípulos para ver quem ficaria mais perto de Jesus. Eles ainda deviam superar as ambições.

Simples mas solene:

A última ceia foi celebrada na simplicidade, mas sem deixar de ser solene. Os discípulos nem podiam imaginar que aquela ceia iria tornar-se o coração da Igreja nascente e perpetuar-se para sempre. O que será que se passava no coração de Judas Iscariotes? É impossível descrever. Os demais discípulos nem podiam imaginar o que estava para acontecer.

Trevas e sombras:

Judas entendeu que seu plano fora descoberto por Jesus. As palavras duríssimas que Jesus diz a respeito dele continuam nos impressionando muito: – “Seria melhor para esse homem não ter nascido” (Mt 26,24). Pedro sentia-se angustiado pela incerteza. Não conseguia resistir, fez um sinal para o seu amigo João, que estava ao lado do Mestre e este perguntou diretamente, quem seria o traidor. Jesus respondeu a João com um fio de voz: – “É aquele que eu der um pedaço de pão embebido no vinho” (Jo 13,26). Aquele era um gesto simbólico com que à mesa, se demonstrava simpatia e amizade por alguém. Jesus tentou assim, mais uma vez salvar uma alma perdida, mas Judas, pelo contrário ficou ainda mais sombrio, pois “satanás entrou nele”; sentiu um profundo ódio por sua vítima. Judas levantou-se da mesa e saiu sem dizer uma palavra. As trevas da noite o envolveram. Agora os laços com Jesus estavam mesmo cortados.

Fracasso e humilhação:

Jesus celebra e institui “sua eucaristia” e manda celebra-la em sua memória. Jesus não come, mas se entrega. Ele parte o pão para repartir e assim os seus discípulos podem fazer o mesmo. Jesus anuncia em seguida o fracasso e humilhação que os discípulos vão passar. É um anúncio trágico. Os discípulos vão tropeçar na grande prova e se dispersarão como ovelhas, mas sua queda não será definitiva, porque o pastor ressuscitado voltará a reuni-los na Galiléia (Mt 28,10).

O momento se aproxima:

Na noite da refeição pascal era proibido sair de casa, mas Jesus “transgrediu” esta regra da antiga tradição, temendo pela segurança dos apóstolos, pois poderiam facilmente ser presos na sala onde haviam ceado. Judas, percebendo que não havia mais ninguém na sala, conduziu os soldados até uma propriedade afastada, que ficava no outro lado do Cedron. Este lugar era conhecido de Judas, pois muitas vezes já estivera com Jesus lá. Era chamado de Horto das Oliveiras; em hebraico, de “Getsêmani”, que significava o lugar onde havia uma prensa para a produção do azeite de oliva. Esta foi à última saída de Jesus com seus discípulos, antes de sofrer a Paixão.

Dom Agenor Girardi, MSC – Bispo Auxiliar de Porto Alegre – RS