Em nossa Congregação, Ninguém é hóspede casual, Ninguém é estrangeiro; Somos todos irmãos No único Coração de Cristo. Pe. Júlio Chevalier, 1897
Fico imaginando quão grande e profunda foi a experiência do padre Júlio Chevalier com o amor de Deus. Uma experiência de amor desta dimensão só pode acontecer a partir da intimidade. Foi no contato íntimo com o Deus da vida que o padre Júlio Chevalier descobriu o Coração de seu Filho. Jamais uma relação frágil e rasa geraria um coração disposto a se doar pelo bem dos outros.
A vivência profunda do mistério amoroso de Deus transcende o nível do romantismo e do sentimentalismo e impulsiona o homem a ir além. Júlio Chevalier percebeu que não bastava mais sentir-se amado por Deus, era necessário levar outras pessoas a fazerem a mesma experiência.
Penso que o nosso fundador sentia o Coração de Cristo como uma casa, um lar, uma morada, lugar de repouso e descanso. Era o ponto de chegada e também de partida. Como não poderia ser diferente, o Coração do Divino Filho se tornou para ele o centro de onde tudo se irradiava.
Lembro-me de que na casa de meus pais, no interior de Minas, a sala de estar precisava ficar sempre limpa e arrumada por causa das visitas, mas quando era uma pessoa próxima da família que chegava, logo era levada para a cozinha, muitas vezes entrava até mesmo pela porta dos fundos. Não tinha problema se a cozinha não estava bem organizada, aquela pessoa fazia parte da nossa intimidade.
A cozinha é um lugar de intimidade para uma família mineira, diz muito dos hábitos e das pessoas que moram ali, levar alguém para dentro era como dizer: “você é de casa”. Mas não era qualquer pessoa que chegava pelos fundos ou que entrava na casa inteira; minha mãe sabia muito bem quem fazia parte da nossa intimidade.
Penso que o padre Júlio descobriu isso, sei que ele descobriu no Coração de Cristo o lugar da intimidade. Todos quantos quiserem ir ao mais profundo de Cristo devem dirigir-se ao seu Coração. Lá é o lugar de onde emanam todas as graças, é também o lugar da aprendizagem.
Desta relação é que aprendi o que o nosso fundador quis ensinar ao dizer que em nossa Congregação ninguém é hóspede casual ou estrangeiro. Ele quis nos mostrar que, como homens do Coração de Cristo, somos levados a mostrar também o nosso coração. Por isso, acolher, receber bem, alegrar-nos com a presença de um irmão, faz parte do nosso carisma como ponto essencial, como pertença de algo vivido e que nos foi transmitido. E aqueles que se aproximam da intimidade MSC, da nossa cozinha, percebem quão frágeis somos nós, quanta humanidade há em cada um, mas percebem acima de tudo qual Coração queremos imitar.
Com o nosso coração simples, humano e acolhedor, queremos levar todas as pessoas à mesma experiência de amor e acolhida feita um dia pelo nosso fundador e que, como seus filhos, um dia também nós fizemos e que agora buscamos transmitir.
Fr. Girley de Oliveira Reis, MSC é seminarista e cursa o 4º ano de Teologia na PUC/São Paulo-SP