Revista de Nossa Senhora
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Batom nos paramentos

Publicado em 25 de fevereiro de 2014 / Reportagens >

Deep prayerO primeiro pensamento que me  ocorreu é que estava diante  de uma “novidade”

Em nossa comunidade paroquial, o pároco nomeou cinco ministros extraordinários da Palavra. São três mulheres e dois homens. Quando o sacerdote está ausente – pois tem várias tarefas na diocese e atende a outra comunidade distante, com a doença do pároco local -, cabe a nós, os ministros, exercer a função de moderadores das celebrações e fazer as reflexões sobre o Evangelho.

Outro dia, ao vestir a túnica própria dos ministros, notei a mancha de batom na gola. O primeiro pensamento que me ocorreu é que estava diante de uma “novidade”, uma possibilidade aberta pelo Concílio Vaticano II: a presença da mulher em ministérios supletivos da ação dos ministros ordenados.

De fato, o novo Código de Direito Canônico [1983], reformado após o Vaticano II, foi citado por João Paulo II em sua Encíclica sobre a “Vocação e Missão dos Leigos na Igreja e no mundo” [Christifideles Laici]: “Onde as necessidades da Igreja o aconselharem, por falta de ministros, os leigos, mesmo que não sejam leitores ou acólitos, podem suprir alguns ofícios, como os de exercer o ministério da Palavra, presidir às orações litúrgicas, conferir o Batismo e distribuir a Sagrada Comunhão”. (ChL, 23.)

Naturalmente, continuamos leigos. Como alerta a mesma Encíclica, “o que constitui o ministério não é a tarefa, mas a ordenação sacramental. Só o sacramento da Ordem confere ao ministro ordenado uma peculiar participação no ofício de Cristo, Chefe e Pastor, e no seu sacerdócio eterno”.

É verdade, ainda, que os fiéis preferem a presença do sacerdote; especialmente os mais idosos experimentam certa dificuldade diante de ministros leigos nas celebrações, ainda que só nos apresentemos ali como extensões, em caráter supletivo, do próprio ministério do sacerdote.

Voltando à mancha de batom (a gola é mesmo estreita e justifica os traços vermelhos…), o Papa João Paulo II falou à Igreja sobre a “presença e colaboração dos homens e das mulheres” (ChL, 52), lamentando a “presença demasiado fraca dos homens”. Devo citar por extenso o que ele escreveu:

“A razão fundamental que exige e explica a presença simultânea e a colaboração dos homens e das mulheres não é unicamente [...] a maior expressividade e eficácia da ação pastoral da Igreja; nem tampouco o simples dado sociológico de uma convivência humana que é naturalmente feita de homens e mulheres. É, sobretudo, o desígnio originário do Criador, que desde o ‘princípio’ quis o ser humano como ‘unidade a dois’, quis o homem e a mulher como primeira comunidade de pessoas, raiz de todas as outras comunidades e, simultaneamente, como ‘sinal’ daquela comunhão interpessoal de amor que constitui a misteriosa vida íntima de Deus Uno e Trino.”

Se as manchas vermelhas se repetirem na gola da “nossa” túnica, continuarei dando graças a Deus pela preciosa presença feminina em nossas comunidades.

Ademais, não me lembro de ter ouvido nenhuma queixa quando os paramentos de antanho tinham apenas manchas de cinza e o aroma típico dos cachimbos e dos cigarros.

Não sejamos machistas…

Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança