Texto: Pe. Agenor Girardi, mSc
A irradiação do amor: - O amor não tem objeto. Ele simplesmente existe. Faz bem manter contato com pessoas que irradiam amor. As suas mãos, seu olhar e seu coração têm certa ternura. Não conseguimos descrever o que sentimos quando encontramos tais pessoas. De qualquer modo percebemos que somos aceitos, levados a sério e amados. Nós nos sentimos livres. Não precisamos esconder mais nada sob a proteção de uma máscara ou uma mentira. Podemos ser tais como somos. Seus olhos são convites para simplesmente sermos. Mas, sabemos que isso nem sempre é fácil. A certa altura, os nossos sentimentos de amor desaparecem. A nossa tentativa de amor chega muito rápido ao fim. Muitas vezes as pessoas falam de amor com um rosto que reflete dureza e até mesmo brutalidade. As pessoas percebem se nossas palavras sobre o amor provêm da experiência vivida ou são apenas expressões evasivas.
Um amor que vai além: - Nosso anseio último é o amor pleno. Esse amor absoluto não pode ser o amor de uma pessoa apenas, mas somente o amor de Deus. A sexualidade nem sempre é a expressão máxima do amor. As carícias cessam. O amor se desfaz. Há o esvaziamento da sexualidade. Sem o amor divino a sexualidade pode se tornar um grande vazio. A capacidade de amar vem de Deus, porque Deus é amor. O amor vai além da comida, da bebida, do sexo… As pessoas que preenchem o seu vazio interior com comida anseiam por amor. A comida pode servir como substituto do amor. Os anoréxicos, que não comem, também anseiam por amor. Eles duvidam que alguém possa amá-los e, por isso, punem a si mesmos. Por um lado, desejam ser amados, por outro, têm medo disso. O autodesprezo é a causa de muitos problemas. Como sentir-se o “filho amado” assim?
A sede do amor pleno: - O vício da avareza ou da ganância é uma expressão de que a pessoa foi pouco amada. Quando os filhos roubam, os pais se assustam. Os pais não percebem que os filhos estão tirando aquilo que não receberam. Eles se sentiram muito pouco amados. Têm o sentimento de que foram prejudicados. Agora recuperam sua necessidade de atenção e amor pegando tudo o que os atrai. Outras pessoas têm necessidades de comprar o tempo todo e todos os dias. Em última análise estão querendo comprar o amor. Ao comprar, pensam que estão se dando alguma coisa, estão se tratando bem. Quando as compras se tornam um vício, elas não ajudam as pessoas. Cada vício, em última instância, é uma sede por amor, seja o vício do jogo, das dependências, do sexo.
Preenchendo o vazio interior: - Todo vício é um anseio por amor, mesmo nas formas mais desvirtuadas possíveis. O viciado em ativismo gira em torno do seu sucesso. O “fazer” é a única maneira pela qual ele pode expressar seu anseio de amor. O viciado em jogo, quer em última instância, saber que ele é amado pelo destino e pela sorte. Um jogo bem sucedido corresponderia a sua necessidade de amor. O desejo de reconhecimento e afirmação é o desejo de amor. É o desejo de estar sempre no centro, de chamar toda atenção para si, de destacar as próprias capacidades. A sede de fama é apenas uma variante de nossa sede de amor. Se não há ninguém que nos aprove nos afetos, o vazio interior permanece. Na sede de reconhecimento se oculta sempre o anseio de que alguém nos aceite por completo; de que alguém nos ame.
Recuperando o amor: - O amor humano só terá êxito se não for vivenciado de maneira absoluta, mas sempre como mediação do amor divino. As decepções acontecem quando acredito que a outra pessoa pode me dar amor absoluto. E isso nunca acontece. As decepções são parte essencial do amor. Elas evitam que tornemos as outras pessoas absolutas. Só Deus pode nos oferecer o absoluto. O ser humano é mortal. Envelhece, adoece e morre. Pessoas que se “fixam” nos outros vão, muitas vezes perdê-los de uma maneira rápida devido ao medo, ao ciúme e à desconfiança. É preciso recuperar o amor na sua essência e deixar que as decepções apontem novamente para o amor de Deus.
Texto para oração: João 15,18-27: O ódio do mundo contra o amor.
Pe. Agenor Girardi, mSc é Pároco da Paróquia São José em Francisco Beltrão, PR. Escreve em diversos periódicos ligados a Vida Religiosa.