Revista de Nossa Senhora
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Pra começo de conversa…

Caros Leitores,

Certamente, vocês sabem distinguir um padre diocesano de um religioso, padre ou Irmão leigo. No entanto, muitos não sabem que o religioso é aquela pessoa, homem ou mulher, que se consagrou a Deus pela profissão pública dos votos de pobreza, celibato e obediência, os conselhos evangélicos que, entre outros meios, vão ajudá-los a alcançar o objetivo maior de sua consagração, isto é, a sua própria santificação.

Vocês sabem, também, que todo fundador ou fundadora, recebeu de Deus uma graça, um dom especial chamado carisma, que é o aspecto, o ângulo específico através do qual ele/a vê a pessoa de Jesus. Daí nasce uma espiritualidade própria, um estilo de vida em sua relação com Deus.

Vocês, leitores inteligentes, já perceberam também que essa nossa revista tem uma espiritualidade específica, um jeito diferente de falar de Deus e com Deus. Isto porque o fundador de nossa congregação dos Missionários do Sagrado Coração de Jesus, recebeu o dom/carisma de captar a pessoa de Jesus de um jeito próprio, a sua compaixão, a sua misericórdia, marcas que podemos ver no símbolo de seu coração.

Prestem atenção nos textos de nossos colaboradores MSC, no seu modo de orar, suas devoções, suas obras, tudo respira o amor misericordioso de nosso Deus. O nome especial que o Padre Chevalier deu a Maria também fala de compaixão, fala da Mãe em suas relações com esse mesmo coração misericordioso. Se algum de vocês ainda não percebeu, leia com atenção essas páginas e nos dará razão.

BOA E PROVEITOSA LEITURA ! 

A REDAÇÃO.

Madres, Freiras e Irmãs do Povo

Por muitos séculos as mulheres católicas fizeram votos, tornaram-se religiosas e renunciaram à família, aos carinhos do casamento e a filhos para ajudar suas companheiras mulheres a terem filhos; ajudaram as crianças a nascer e a crescer; ajudaram a educar os filhos de outras mulheres e foram cuidar dos velhinhos e ensinar os enfermos a enfrentarem a doença. Aos que morriam ensinaram a morrer. Ainda fazem isso.

Houve um tempo em que a maioria que se dedicava a ajudar a nascer, viver, educar e morrer eram as religiosas católicas, chamadas freiras, irmãs do povo, irmãs de caridade. O mundo aprendeu com elas e, em algumas circunstancias se aperfeiçoou, em outras não conseguiu reproduzir a sua caridade e a sua dedicação. Faziam isso sem ganhar nem mesmo meio salário. Era amor gratuito!

O fato é que as irmãs do povo, as madres, as religiosas deixaram sua marca na história. Hoje, quando uma jovem ainda tem o desejo de cuidar de pobres, de crianças de creches, asilos, hospitais, orfanatos, escolas ou se dedicar à pastoral do povo de rua, ou quando a moça quer se tornar contemplativa ou ainda quer ir para as missões e viver no meio dos pobres, há quem estranhe e pede que desistam de ser assim tão boas…

Desperdiçar-se? Tornar-se irmã de caridade, sem ter filhos? Sem ter um homem ao lado? Cuidar de ouras mulheres sem ser paga por isso? Ser mãe jovem de quem não teve mãe? Moças bonitas e inteligentes que poderiam perfeitamente ter arranjado um casamento no mundo? Vai contra a lógica!

Louvo a Deus que põe esse sonho de gratuidade plantado em corações femininos benevolentes. Foi o seu bem querer que educou milhares, senão milhões de pessoas. É justo que o povo as chame de madres, ou de irmãs, porque é isso que elas são. Feliz a Igreja que as teve em abundância e continua a tê-las, hoje em menor número, mas não com menos dedicação e capacidade. Madres e freiras! Amar desse jeito só pode ser coisa do céu.

Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 80 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais

Capela do Santíssimo

Um sonho que se tornou realidade! Hoje as pessoas que diariamente visitam nosso Santuário, podem encontrar um lugar aconchegante, afastado do barulho e da agitação, para repousar e se colocar nos braços do Mestre.

“Demos graças ao Senhor, nosso Deus!” Capela do Santíssimo. Mais uma obra realizada pela família Campanha Devoto Solidário

A Casa de Nossa Senhora do Sagrado Coração está sendo restaurada pouco a pouco, com a ajuda e carinho dos devotos que amam e veneram nossa Querida Mãe.

São obras que enchem os olhos e alegram os corações dos milhares de devotos que aqui encontram abrigo e conforto, como se estivessem sob o próprio manto de Nossa Senhora.

Diversas obras já foram concluídas. Entre elas estão a pintura interna, a reabilitação da Sacristia I e II, o Trono e Retábulo de Nossa Senhora do Sagrado Coração, o novo Ambão onde se proclama a palavra de Deus, todo em mármore, do mesmo material do altar-mor, além dos vitrais e nova iluminação em todo o presbitério. Ressaltamos, também, a reforma nos altares de São José, Sagrado Coração de Jesus, Altar-Nicho de N. Sra Aparecida, Capela do Batismo, entre muitas outras obras. As obras na Casa da Mãe Maria não param.

Porém, queremos agradecer de forma muito especial mais uma conquista, que você, devoto solidário muito nos ajudou, com suas orações e sua oferta generosa para a idealização de uma bela Capela do Santíssimo para Nosso Senhor.

Um sonho que se tornou realidade! Hoje as pessoas que diariamente visitam nosso Santuário, podem encontrar um lugar aconchegante, afastado do barulho e da agitação, para repousar e se colocar nos braços do Mestre. É Maria que nos aponta este lugar sagrado. Tudo foi feito de madeira como se fosse da marcenaria de José: a mesa, os genuflexórios bem rústicos. As poltronas aí  colocadas para nosso conforto recordam o trabalho de Maria nos teares. No silêncio deste santuário colocamos apenas três lâmpadas: Pai, Filho e Espírito Santo. Ao olharmos para estas lamparinas, elas nos chamam a atenção para o Mestre que ali está. Ele nos ensina a viver em Comunhão com o Pai e o seu Espírito.

A capela foi sonhada para ser uma espécie de tenda da “revelação”: lugar afastado dos nossos barulhos cotidianos para que possamos entrar em comunhão, em fraternidade e em silêncio com o Mestre Jesus. Por isso, os vitrais coloridos não são para decorar, mas para velar. O ornamento desta capela é Cristo em comunhão com você. Do contrário não faz sentido.

Nessa capela, “Tenda do Senhor”, somente o sacrário chama a atenção. Tudo foi feito para que o olhar do visitante se concentre unicamente no Mestre, permitindo às pessoas adorá-lo em Espírito e Verdade, no silêncio, na contemplação e comunicação com o Mistério revelado.”

Acompanhe fotos atualizadas das obras já concluídas da Capela do Santíssimo de nosso Santuário.

No Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração bate o coração católico do Brasil.

O Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Vila Formosa, São Paulo, tornou-se pequeno diante da dimensão da devoção popular. Ele é, naturalmente, o “Centro de Convergência e Irradiação da Fé e devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração em todo o Brasil”, onde as graças e as bênçãos de Deus se multiplicam, através da experiência com o divino.

É a maior demonstração de devoção e fé do povo católico. É o amor a Nossa Senhora que move os devotos a participarem da obra evangelizadora da Casa da Mãe, lugar santo que propicia o encontro com Deus.

E é por isso que, a Campanha DEVOTO SOLIDÁRIO é considerada uma família, pois através do amor a Nossa Senhora do Sagrado Coração constituiu-se um relacionamento de confiança e transparência, onde todos estão unidos pelo mesmo ideal: conservar a Casa da Mãe e transformá-la cada vez mais em um pedacinho do céu.

Venha evangelizar com a gente!

Agradecemos a você que participa da Família da Campanha DEVOTO SOLIDÁRIO e colabora todos os meses!

Fr. Michel dos Santos, mSC é seminarista e cursa o 4º ano de teologia

Caros Leitores

Passadas as grandes festas, o tempo do Advento que nos preparou para o Natal e a Epifania, vamos entrar na Quaresma, que nos prepara para a Páscoa, coroada pelo Pentecostes, prosseguindo no chamado Tempo Comum, entremeado pelas festas da Trindade, de Corpus Christi, Sagrado Coração e festividades de Nossa Senhora, encerrando mais um ano com a festa de Cristo Rei. E tudo vai se repetir outra vez . . .

“Tempus Fugit”, a ampulheta do tempo deixa escorrer a areia dos dias e das horas e os comunicadores da Boa Nova também continuam a repetir, com jeito novo, estilo diferente e novo ardor missionário, aquelas mesmas mensagens que não passam.

É o que procuram fazer os colaboradores de nossa revista. Vejam os temas: liturgia, missões, vocações, notícias da Igreja, testemunhos dos devotos, catequese e manifestações de nossa espiritualidade congregacional, quando focalizamos o Coração de Cristo e Maria, Nossa Senhora do Sagrado Coração. Tudo isto para atender ao chamado fundamental de Jesus: o tempo chegou! O Reino está no meio de vós, convertei-vos e crede no Evangelho!

Pois é, caros leitores, vocês acham que nós cremos só pelo fato de rezarmos o Credo? Talvez, sim. Mas não basta recitar, declamar as verdades da fé. Crer é acreditar numa pessoa que tem autoridade para ensinar, mesmo quando nos fala de coisas que não podemos compreender. Crer consiste em aderir a uma pessoa, no caso, Jesus Cristo. Adesão supõe rupturas, podas , mutilações . . . Numa palavra, supõe conversão. E em matéria de conversão, seremos sempre eternos aprendizes.

Que nesse tempo especial da Quaresma, essas páginas nos ajudem no processo de nossa conversão.

A REDAÇÃO.

Maria, Mulher

Você, caro leitor ou leitora, que tem essa revista nas mãos, faça a gentileza de responder a esta minha pergunta: você conhece alguma coisa mais bela, mais inspiradora, mais impressionante do que a Criação? Não? Pois é. Nem eu.

Um exemplo, só para ilustrar. Poucas coisas neste mundo me deixam tão extasiado como o amanhecer. O ar fresco da manhã, a cidade que acorda… A luz dourada vai lentamente transfigurando tudo. Mistério da vida: que será do dia de hoje? Fazemos uma prece, é Deus quem cuida de nós. Então saímos para a rua, rumo ao trabalho, à escola ou ao lugar que for. Vemos as pessoas, algumas tristes, outras tantas eufóricas. No ônibus a mulher grávida senta-se e acaricia a barriga como se pensasse em como serão os olhos, o nariz de sua criança: “Com quem se parecerá?”. Homens riem tomando café na padaria, alimentando-se de amizade; uma senhora esbraveja no ponto de ônibus: o motorista não a viu dar o sinal e passou direto. A vida pulsa em cada canto, em cada canto um louvor, mesmo silencioso, Àquele que criou isso tudo. A vida é maravilhosa e ser humano é um prazer quando se vive em plenitude. Realmente, Deus é um artista de mão cheia. A vida humana prova isso.

Parece que quem escreveu o livro do Gênesis partilhava dessas mesmas sensações. Ao colocar por escrito a inspiração divina, no belo poema que relata as origens do nosso mundo, contemplamos o Senhor trabalhando: “Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra’. Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou. (…) Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom.” (Gn 1, 26-27. 31).

Era muito bom e continua sendo! Deus ama apaixonadamente este mundo e tudo o que há nele. Um cristão dos primeiros séculos da Igreja, Isaac de Nínive, em seu tempo já costumava dizer que “Deus só pode amar. Deus é ternura!”. E esse amor vai tão longe e tão profundamente que ousa lançar-se nos braços da humanidade! Como a criança se joga nos braços do pai, porque tem certeza de que o pai irá segurá-la, O Filho de Deus lança-se nos braços da nossa humanidade. O próprio Senhor faz-se humano, sem deixar de ser Deus.

Mas de onde vem isso? Que amor é esse? Bom, meditando a Palavra de Deus, parece que não somos os únicos a querer entender essa paixão sem limites, que aos nossos olhos pode até parecer exagerada, uma vez que erramos tanto… “Quando vejo o céu, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que fixaste, pergunto-me: que é o ser humano, para dele te lembrares, e um filho de Adão, para que venhas visitá-lo? E o fizeste pouco menos do que um deus, coroando-o de glória e beleza”. (Sl 8, 4-6)

O amor tem dessas loucuras. Quando amamos, nos entregamos completamente, ficamos vulneráveis. Estranha lógica essa, mas, como dizia Pascal, filósofo francês do século XVII, “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Deus, ao fazer-se homem, assume um coração humano. Como compreender suas razões? Não se compreende. O mistério que se encerra nesse acontecimento não se explica; simplesmente se vive.

Diante de tantas razões para se amar a humanidade, fico impressionado com a quantidade de gente que, às vezes, até em nome da religião, parece desprezar tudo que é humano, como se tudo que dissesse respeito ao corpo e ao mundo fosse mau. É bem verdade que frequentemente nos desviamos da nossa vocação de filhos de Deus e nos esquecemos de que, sendo filhos do mesmo Pai, somos irmãos. E daí surgem os desentendimentos, ódios, guerras e assassínios. Mas essa não é nossa natureza, é fruto de um ambiente, de uma situação. “Deus viu que tudo era bom”, criou-nos à sua imagem. Enfim, em duas palavras, somos bons!

Mas vamos agora olhar para Maria, razão deste artigo.

Ao vermos a bondade com que Deus nos cria e a maldade de que somos capazes, pode ser que a gente pense que existe uma contradição nisso. Porém, se olhamos para a Maria, entendemos perfeitamente que não há contradição, mas uma cooperação. Uma cooperação que deve haver entre nós e a vontade amorosa de Deus. Ele não pede que sejamos super-homens e super-mulheres. Quer apenas a nossa felicidade seguindo a sua vontade. Mesmo fracos, ele vem em nosso socorro. E Maria entendeu isso, veja só: “Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humilhação de sua serva. Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias.” (Lc 1, 46-48. 51-53). Deus não escolhe os mais ricos, os mais inteligentes, os mais poderosos. Escolhe os mais simples, os que estão dispostos a ouvir sua vontade e colocá-la em prática. Escolhe aqueles que, apesar de suas fraquezas e contradições, ousam lançar-se no seu seguimento, colocando toda sua esperança em Deus. Ele sabe que nossa natureza humana é fraca, mas a ama mesmo assim!

Incoerências todos nós temos. Nem sempre somos fiéis. Mas isso não é motivo para desespero. Fala-nos a Palavra de Deus em resposta. Abrindo a Bíblia, encontraremos pecados em Adão, em Moisés, em Davi, nos demais reis de Israel. Veremos erros nos Apóstolos, deslizes em Pedro e Paulo. Isso fez deles pessoas más? Não. Porque confiaram que não existe santo sem passado, nem pecador sem futuro. Todos pecamos e podemos contar com a Graça. E a experiência de Deus passa justamente pelas nossas fragilidades, pelos nossos erros. Foi o próprio Paulo a dizer esta lição: “com todo o ânimo prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força de Cristo. Por isto, eu me comprazo nas fraquezas, nos opróbrios, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte. (2 Cor 12, 9-11). O mais importante é, ainda que haja erros, não desistir de tentar acertar, sempre. Este é o segredo do caminho da santidade.

É bem verdade que cremos que Maria foi agraciada por nascer sem pecado original. Mas isso não fez dela uma deusa, ou seja, ela continuou humana, com todas as dificuldades da vida diária que todos nós temos. Mas a sua disposição em fazer a vontade de Deus a torna impossível de ser ignorada. Mais que ninguém ela foi exemplo de confiança, assumindo o risco de apresentar-se a José, grávida, sem ser ele o pai da criança. Precisou confiar em Deus diante da perseguição de Herodes e tantas outras vezes.

E nós, tantas vezes nos queixamos quando sentimos o Espírito apontar em nossa vida o que o Pai nos pede. Às vezes é um serviço na Igreja, outras tantas é um apelo de reconciliação com alguém, ou mesmo o deixar de calar-se diante de uma injustiça. Dizemos que somos pecadores demais para assumir um compromisso, e até achamos que não somos amados por Deus por causa de nossos erros… Como se Deus fosse um carrasco que olha mais para nossos erros do que para nossas potencialidades.

Por isso, convido você a ter sempre por perto a imagem dessa mulher magnífica, chamada Maria. Que ela o inspire nos momentos de dificuldade, em que tudo parecer difícil, em que os desafios da vida parecerem intransponíveis. Saiba, ela permanece sempre ao seu lado e à sua frente para o conduzir a Deus. Ela é a amiga, a conselheira, a animadora, a mãe. Mulher igual a todas as mulheres, e ao mesmo tempo toda diferente, pois está embebida de Deus, como um pedaço de pão mergulhado no vinho. Toda de Deus e toda do povo.

Fr. Fernando Clemente, MSC, é Seminarista religioso e cursa o 2º. Ano de Teologia.

Os sinais de DEUS na vida

Quando a comunidade deixa de ser fermento, faz-se necessário o despertar profético de quem permanece vigilante.

INTRODUÇÃO

Aqui queremos refletir sobre nossa caminhada de vida missionária e os desafios que temos diante de nós. Da realidade vem o apelo para que uma voz grite no deserto anunciando uma nova vida em meio aos sinais de morte.

COMUNIDADE PEREGRINA

Uma comunidade missionária sempre deve ser peregrina. Consciência missionária e a idéia de caminho estão sempre juntas. A comunidade sempre vai estar aberta aos novos desafios e às novas realidades quando a escuta da Palavra e o discernimento não estão distantes da vida. No contexto de hoje, esta dinâmica significa estar na contramão da corrente cultural que privilegia o comodismo e a vida fácil. A comunidade discípula é construtora de novos caminhos no meio da realidade difícil em que vivemos,anunciando a Boa Nova de Jesus Cristo.

Fico olhando para centenas de trabalhadores/as e milhares de crianças e jovens que passam nestas ruas do bairro de “San Alejo”, onde vivemos. Apesar da pobreza e da vida difícil que todos/as enfrentam nestas condições subumanas, todos/as que passam se confundem com caminhantes de qualquer outro contexto. Expressam o modo de ser ao estilo de vida da classe media: vida de consumo, busca de comodidade, sentindo-se dentro da moda cultural do momento.

Neste estilo de vida os valores da competição, da ambição e do individualismo sobressaem, criando o sentimento de que na vida prevalecem os mais fortes, elegantes e o prestigio de apresentar-se bem. Diante disso, nos perguntamos, cómo anunciar o Evangelho como uma opção de vida? Despertar o sentido de comunidade não é uma tarefa simples na atualidade, pois os valores sócio-culturais contagiam a comunidade cristã. Nestas mudanças rápidas, a comunidade missionária tem o papel profético e anunciador de uma nova visão de vida, testemunhando, aqui e agora, a presença do Reino de Deus.

Viver e assumir um estilo de vida evangélica neste ambiente desperta medo de sentir-se fracassado, de estar perdendo tempo, de ficar sem promoção social e marginalizado. Por isso, quando falamos de VRC, o testemunho deve ser comunitário, como elemento principal na evangelização transformadora. A comunidade é a fortaleza da experiência missionária. Quando a comunidade deixa de ser fermento, faz-se necessário o despertar profético de quem permanece vigilante. Na historia do povo de Deus, os profetas estavam sempre na contramão da pratica sócio-política e religiosa.

OS ACONTECIMENTOS FALAM DE DEUS

Quando encontramos realidades-limites e desafiadoras, a luta para sobreviver supera os medos e os temores. Nesta semana, fomos visitar os doentes da comunidade e começamos pelos que estavam no hospital. Ali encontramos uma jovem com leucemia. Ela revelava um semblante de esperança e confiança. Ela já havia passado pela quimioterapia, mas isso não quebrou o seu animo. Ela nos acolheu com um sorriso no rosto, falando serenamente de sua doença, que faltava pouco para sair daquele quarto de hospital. Enfrentava o sofrimento com sobriedade, com consciência de sua condição, mas com esperança.

Ao sair de encontro com os fragilizados da vida, acabamos surpreendidos pelo valor como muitos/as enfrentam essas situações-limites. Medem a vida pela capacidade de resistir, de superar e encontrar luzes nos pequenos acontecimentos como sinal de que as coisas estão melhorando. Por isso, não se cansam e não desanimam com a condição em que vivem. Nossa comunidade religiosa msc, aqui, é bastante débil pela quantidade de problemas que temos de enfrentar e desafios por construir. Mas, não têm faltado leigos/as que se juntam a nós no trabalho. Alguns/as carregam esta pratica de outros trabalhos anteriores que já semearam sementes neste chão, e outros acabaram entrando pelo testemunho. Ou seja, os sinais de que Deus atua no meio das situações são evidentes, mas não basta. É necessário encontrá-lo e alimentar a fé nesta relação.

A comunidade, para ser missionária, depende de vários movimentos que ocorrem na dinâmica dos acontecimentos: de um lado, as comunidades eclesiais que não estão livres dos pecados sociais que destróem as relações fraternas; por outro lado, a vida comunitária religiosa também cai nas mesmas tentações do narcisismo e da acomodação.

Hoje, uma das praticas mais difíceis na vida de grupo é sentar para avaliar porque o individualismo supõe que ninguém deve prestar conta a ninguém. Temos medo de enfrentar nossas debilidades porque nosso espelho de cada dia nos da uma visão bonita de nossa vida, escondendo o lado escuro da nossa infidelidade ao Evangelho.

CONCLUINDO

Sentimos que a situação não está fácil. Sem dúvida, o testemunho do Evangelho é urgente. São muitas as contradições que confundem qualquer mente desatenta. A complexidade da vida faz com que nos acomodemos e deixemos o barco andar sem saber para onde vamos. Entretanto, é hora do silencio e da escuta atenta aos sinais de Deus na historia.

Pe. Antonio Carlos Meira, mSC é missionário no Equador.

Caros leitores,

Começa o ano novo e passamos a ouvir aqueles votos e aquelas saudações costumeiras, umas sinceras e autênticas, outras protocolares e formais. Enquanto os antigos nos dizem:

“Bom princípio”, outros nos desejam um “próspero ano novo”. A maioria não faz nenhuma conotação que nos lembre graças ou bênçãos de Deus. Quase todos nos desejam prosperidade material, mesmo, traduzindo aqueles versos populares, típicos dessa época: “muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”.

Nada contra esses votos e esses benefícios que nos dão segurança e nos ajudam a viver com dignidade. Contudo, no início de cada novo ano que a bondade de Deus nos concede, nós, cristãos, vamos além. Pedimos e procuramos fazer com que nossos propósitos de renovação e as alegrias do Natal nos acompanhem no decorrer do ano que vai se iniciar.

E no rol de subsídios e recursos, provisão e alimento para nossa caminhada, oferecemos também o conteúdo de nossa revista, material feito de temas que abordam espiritualidade e missão, Igreja, catequese, notícias, enfim, tudo aquilo que colabora para o nosso crescimento na fé.

Esta primeira edição do ano não é diferente. Aqui vocês, leitores e leitoras, vão reencontrar artigos e autores com os quais estão familiarizados. De fato, aos poucos, vamos estreitando laços e formando uma verdadeira família na fé.

Desde já, pra todos vocês, um Ano Novo abençoado e feliz, com as graças de Deus e a poderosa intercessão de Maria, Nossa Senhora do Sagrado Coração.

A REDAÇÃO.

Tortas doces de maçãs bichadas

Os catequistas têm, todos, o direito de ensinar. Todos têm o dever de opinar e, todos, o dever de corrigir ou aceitarem ser corrigidos. Defendi, uma vez, num artigo, o sacerdócio para mulheres. Dom Murilo Krieger, grande amigo de tantas horas, chamou-me a atenção, com o direito que tem um bispo de fazê-lo. Indicou- me o texto no qual João Paulo II pedia aos sacerdotes que deixassem este assunto para as autoridades. Imediatamente escrevi outro artigo pedindo desculpas à Igreja e dizendo que o Papa tinha mais direitos do que eu, voltava atrás na minha opinião. Quero pregar a Palavra de Deus e, por extensão, a da Igreja, mas não quero ensinar o que a Igreja não me autoriza a ensinar.

Dias atrás, atendi uma jovem em crise de baixa estima porque não conseguira realizar seu sonho de ser santa. Não dava tudo a Jesus. Perguntei o que ela entendia por “tudo”. Nunca soube de um santo que dera tudo a Deus. É impossível pelas próprias forças doar-nos tanto.

Da sua conversa depreendi que estava impregnada do falso slogan: “Para Deus, ou tudo ou nada”! Perguntei-lhe se diante de lauta e farta mesa com mais de 50 pratos, ela experimentaria todos e comeria de tudo, ou se, não podendo comer tudo e de tudo, não comeria nada… Riu-se. É claro que não experimentaria tudo, nem comeria tudo, mas comeria o que conseguisse digerir…

Lembrei-lhe que a comunhão em Cristo não é diferente. Não temos capacidade moral, ética ou mental para experimentar todas as místicas e correntes de espiritualidade que a Igreja nos oferece; mas não temos, também, o direito de dizer que não somos nada. Ninguém conseguirá dar tudo a Jesus, e isso não significa que não deu nada. Nem os pais dão tudo aos filhos, nem as crianças dão tudo aos pais.

Sugeri que trocasse o slogan que norteava e que é bonito como marketing da fé mas não se sustenta, pelo conceito do máximo possível dentro do mínimo admissível. Com graduação em pedagogia, ela imediatamente entendeu minha proposta. Pediu licença e escreveu no seu celular para twittar depois: Pensamento do Padre Zezinho scj :- Tentarei viver o máximo possível, dentro do mínimo admissível…Não buscarei mais a mística do “ou tudo ou nada”, porque nunca serei capaz de dar tudo a Deus. Mas poderei dar o meu máximo, que nunca será tudo!

Brinquei, dizendo que a anotação passava de 170 toques. Disse, ela com um sorriso: – Pois é. Se nem num twitter eu consigo dar tudo e tenho que fazê-lo por etapas, menos ainda na vida. Ficarei santa de pouquinho em pouquinho.

Tomemos cuidado com propostas radicais. Francisco e Clara conseguiram chegar perto do tudo, mas, ainda assim, sofreram com seus limites. Nem Paulo, nem santo algum conseguiu dar tudo. Foram canonizados por terem chegado ao máximo possível. Não se contentaram com o nada, nem com o mínimo, mas traçaram a linha entre o mínimo tolerável e o máximo realizável. A frase de Paulo: “Posso tudo naquele que me dá forças” está pontilhada desta psicologia. Estava dizendo que quem pode é Jesus.

Já vi crianças atravessarem a correnteza forte de um rio. Conseguiram. Mas os pais estavam ao lado e as seguravam com cordas… Elas puderam porque os pais podiam… Não foi tudo, mas também não foi nada. A santidade, que pode estar nos extremos, também pode estar no meio. Depende de aceitarmos nossos limites! Já comi tortas deliciosas feitas com as partes boas de maçãs bichadas…

Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 80 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais.

Vocação: simplicidade e mistério

Definir uma vocação parece muito simples, e realmente é. Pode-se dizer teoricamente que vocação é um apelo do Coração de Deus ao coração do homem, um chamado a assumirmos uma participação na realização do sonho de Deus para a humanidade. Mas quando falamos das coisas do alto, percebemos que as ações divinas são mescladas de simplicidade e mistério. Ou seja, Deus não é complicado, mas se manifesta cheio de encanto e envolvimento.

O grande sonho de Deus, ou podemos ainda chamar este sonho de projeto, começa a se concretizar humanamente no presépio de Belém, ele que se faz homem para que nós pudéssemos participar de sua divindade. Acontece aí um envolvimento do Criador com a criação, um fenômeno nascente da grandiosidade de Deus. Somente quem é puramente simples pode se dar assim, porém não se deixa corromper porque não perde sua essência divina. Como compreender a atitude de um Deus que se faz humano, que se coloca frágil numa manjedoura, que se entrega aos cuidados humanos e se faz dependente? Não se pode explicar. Os mistérios divinos não são para serem desvendados, é uma parte de Deus não desvelada que nos impulsiona a ele. Sinal de um amor que opera desde sempre e adentra a eternidade.

Seria diferente com a vocação humana? É claro que não. Todo chamado também está envolto em mistério. Quando falamos de vocação, explicamos o fato, mas não o sentimento. Podemos dizer tudo o que fazemos em prol de plano salvífico de Deus; conseguimos explicar como se dá o nosso trabalho, mas ficamos sem palavras quando tentamos nomear o que nos atrai, o que dá sentido a tudo, principalmente quando somos questionados e incompreendidos. Não se definem gestos de amor. Ser chamado por Cristo é antes de qualquer coisa ser chamado a amar. Tudo isso se dá porque a proposta de Deus é demasiadamente atraente, loucura para o mundo. Exige cada vez mais uma doação de nós mesmos, de maneira que não admite mediocridade.

No Advento vemos como Deus confia no homem e como a própria ação divina está vinculada à nossa adesão a ele. Foram os “sims” de pessoas como João Batista, Nossa Senhora, São José e tantos outros que possibilitaram o grande SIM de Cristo em favor da humanidade. Deus não agiu sozinho. Embora pudesse assim fazer, ele quis precisar do homem para a salvação do próprio homem.

Desta forma, a vocação de cada pessoa, seja à vida leiga, presbiteral, religiosa ou consagrada, passa antes de tudo pelo Coração de Deus e depois pelas pessoas que nos cercam. Acolher a vocação de uma pessoa em nosso meio é acolher a vontade de Deus. Cultivar um chamado é acreditar que Deus age no nosso meio através de nós mesmos e de cada um.

Pastoral Vocacional MSC

VAMOS CONVERSAR . . .

Mais uma vez, pedimos licença para entrar em sua casa e oferecer-lhe alguns subsídios para o crescimento na fé.

A nossa Revista de Nossa Senhora, – RNS – é nosso aparelho de conversa. E por falar em fé, Padre Zezinho, alma de apologeta, está sempre embasando nossa crença nas verdades que herdamos de nossa mãe, a Igreja, transmitidas por nossos maiores.

Vez por outra, ele cita um diálogo ou discussão com algum evangélico. Ecumenismo é isso, é dialogar com respeito com aqueles que pensam diferente, mas sem abrir mão de nossas convicções. Nossa página “Pode Perguntar” também vai nessa linha, procurando responder às perguntas de nossos consulentes.

Nossa fé é um tesouro que carregamos em vasos de barro, frágeis como nossa natureza, sempre exposta às seduções do erro. Mês passado, celebrando Finados e Todos os Santos, exercitamos nossa fé na chamada Comunhão dos Santos, participação na mesma missão, a missão de Cristo. Trata-se do mistério que professamos todas as vezes que recitamos o Credo, síntese das verdades principais de nossa fé. Padre Paulo Roberto discorre sobre esse tema, lembrando o intercâmbio, a intercomunicação que deve haver entre nós que ainda peregrinamos, aqueles que ainda se purificam e nossos irmãos e irmãs que estão na glória.

E porque estamos no mês da natividade do Senhor, você não pode deixar de rezar a página de Espiritualidade, de D. Agenor Girardi, comentando o Prólogo do evangelho de João, aquele trecho bonito e substancioso que antigamente era lido em todas as missas, antes da bênção final. A Palavra que se faz Carne é o próprio Filho de Deus, a luz suprema que ilumina a consciência humana. Ele veio morar no meio de nós, quis ser alguém de nossa raça, em tudo igual a nós, menos o pecado.

Caro leitor, veja também o texto sobre o Coração de Jesus, a página sobre Liturgia, o testemunho de nossos missionários na Amazônia e no Equador e, – surpresa, – as palavras de ternura que o famoso ateu, Jean Paul Sartre, põe na boca de Maria, tendo ao colo seu filho Jesus. Aliás, esse autor, num de seus livros, nostálgico, confessa que, católico na infância, se não tivesse perdido a fé, ele teria feito uma bela caminhada com Deus …

Pois bem, a mesa está posta, sirva-se! 

A REDAÇÃO

 

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