Texto: Pe. Zezinho, SCJ
O tema é candente e é de direitos humanos. Aplaudimos todas as iniciativas, se necessário também as coercitivas, contra o desrespeito à mulher, às crianças, aos negros, aos indígenas, aos homossexuais, aos judeus, aos muçulmanos e a todas as minorias; sobretudo contra palavras, piadas, notícias tendenciosas e gestos que criem preconceitos, conceitos deturpados, julgamentos precipitados, desinformação, mentira e violência contra qualquer pessoa ou grupo de pessoas.
Não é este o espírito da coisa? De fato, incomoda ver alguém ridicularizando um gay, um negro, um judeu, um muçulmano, um índio de maneira a inferiorizá-los. Indivíduos e grupos estão reagindo em nome do politicamente correto. E fazem bem em defender-se. Denúncias, só com os dados concretos na mão e nunca de maneira generalizada, como se todos os negros, todos os gays, todos os índios, todos os muçulmanos, ou todos os judeus agissem daquela forma.
Vejo, porém, que nós, declarados cristãos, católicos e evangélicos que somos maioria neste país, num percentual que beira os 90%, não temos tido o mesmo tratamento. São frequentes os artigos, as indiretas, as invectivas, as piadas, as insinuações contra o papa e os bispos, e até as diatribes em colunas de jornais e revistas contra nós, quando defendemos alguma posição antagônica a quem, -diga-se de passagem- defende as minorias.
Contra as minorias não pode, mas contra a maioria pode? Contra o Governo pode porque é governo e contra as minorias não, pode porque são minoria? Ou contra o Governo não pode, porque é governo, mas pode contra ONGs ou minorias incômodas? Contra as grandes religiões, que são maioria pode, mas não pode contra as minoritárias? Podem generalizar contra padres e pastores, mas não podem generalizar contra rabinos e aiatolás ou gays?
Estamos de acordo. Não se deve ridicularizar o Congresso, que é minoria forte, mas minoria. Fale-se do congressista que errou ou dos congressistas que erraram, mas não do Congresso. Fale-se de alguém da minoria que errou e sem perder o respeito, apesar do seu erro, mas não se incluam todos os do seu grupo.
As leis existem. Vejo que os que apoiam os nazistas ou os terroristas são punidos ou silenciados e que os articulistas são cuidadosos ao falar das minorias. E isto é correto. Mas não vejo o mesmo cuidado em algumas colunas de periódicos, nem em reportagens inflamadas contra a Igreja da qual faço parte ou contra os outros cristãos. Nesse caso parece que pode. Alguma Geni precisa sobrar para que possam jogar aquilo nela!
Preconceito, contra pequenos ou grandes, continua preconceito. Reveja-se a prática. Como está, parece que atirar pedras contra os católicos, contra o Vaticano, contra os americanos, contra o Congresso, contra este ou aquele partido pode, mas contra os da lista dos intocáveis, não! Talvez fosse conveniente estampar uma lista nos metrôs e aeroportos, dizendo contra quem é proibido tecer críticas e até graves ofensas e contra quem é democraticamente permitido… Ao que tudo indica, a lista já existe e funciona no estilo “paulada nesses! pega leve com aqueles”…
Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 80 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais.
Vocês estão recebendo e estão convidados a saborear as páginas de mais um número da Revista de Nossa Senhora, subentendida aqui Maria, em suas relações com seu filho Jesus, Nossa Senhora do Sagrado Coração.
A diagramação sempre bem cuidada, fotos ilustrando os vários textos, as mensagens de colaboradores que já vão se tornando familiares a cada um, tudo isto nos dá a certeza de que esta revista vem sendo um presente que a cada mês esperamos com alegre expectativa.
Vocês terão um prato cheio no que se refere às missões: nossos confrades da Amazônia, representados pelo Padre Reuberson, com sua pena pitoresca, narrando suas incursões pelas regiões ribeirinhas dos afluentes do Alto Rio Negro; o trabalho difícil e desafiador do Padre Meira, ora em meio à pobreza gritante de Porto Viejo, no litoral do Equador.
As páginas de espiritualidade de Dom Agenor Girardi, discorrendo sobre a mística do Bom Pastor: Jesus se declara a porta do redil, a porta aberta e acolhedora para todos aqueles que buscam o pasto, bem diferente das portas do templo, sempre vigiadas por guardas, permitindo a entrada somente dos privilegiados.
Na secção Liturgia, vocês terão não apenas os comentários e diretrizes para as celebrações dos domingos, mas também uma página assinada pelo teologante Rodrigo Domingues, chamando nossa atenção para a música litúrgica, como executá-la e como evitar falhas e abusos comuns em muitos ambientes.
Na catequese, Padre Paulo Roberto vai nos explicar melhor aquela palavra do Credo: “Subiu aos céus e está sentado à direita de Deus”. “Respeito, Minorias e Maiorias” é o
título da página sempre aguardada do Padre Zezinho, falando sobre direitos humanos, sobre o devido respeito às minorias, mas defendendo também as maiorias, p. ex. católicos e evangélicos, 90% da população, alvo de ofensas e ridicularização por parte de uma certa mídia …
Vamos ler ainda as páginas dos Testemunhos dos devotos de Nossa Senhora do S. Coração, a gratidão sincera e comovente de quantos foram agraciados por intercessão de sua Mãe. Padre Cortez acrescenta mais um comentário a essa série de artigos sobre o Sagrado Coração, ora mostrando esse Coração como o centro para o qual tudo converge. Padre Lucemir, Promotor Vocacional, nos lembra que, cada um de nós, qualquer que seja nossa vocação específica, todos somos vocacionados à unidade.
Caros leitores, uma proveitosa leitura a todos!
A DIREÇÃO.
Texto: Pe. Paulo Roberto Gomes, mSC
Ao professarmos nossa fé na ressurreição de Jesus, afirmamos sua subida aos céus. Trata-se de uma forma de expressar sua entrada na plenitude do Pai, na Glória, como o vencedor da morte, do mal e do pecado. O céu é Deus, enquanto plenitude da felicidade e da salvação. Não é um lugar físico-espacial, pois estamos falando de realidades que ultrapassam o tempo e o espaço.
Aquele que desceu aos infernos da rejeição humana e da humilhação, cuja violência e agressividade foram descarregadas sobre Ele, pelas autoridades do seu tempo, incomodadas com as mudanças propostas, é reabilitado e confirmado pelo Pai. O Verbo que habitava junto a Deus e se fez homem (Cf. Jo 1,1-18), depois de cumprir sua missão e nos mostrar o caminho que devemos trilhar, retorna para o Senhor. Ele mesmo havia dito “ninguém subiu ao céu a não ser aquele que desceu do céu” (Jo 3,13).
A ressurreição de Jesus e sua entronização na Glória do Pai nos fazem compreender o nosso destino, como Ele, se vivermos nossa missão, trilharmos os seus passos e soubermos dar sentido à nossa vida, saberemos dar sentido para nossa morte. Aguardamos nossa futura ressurreição como nova criação, transformação desse corpo perecível num corpo glorioso.
A “subida aos céus e o estar sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso” afirma claramente a identidade desse inocente, pobre e justo que sempre se colocou ao lado dos oprimidos e excluídos. Mostra o Deus já revelado no Antigo Testamento como o Deus de Amor e Misericórdia, capaz de dar-nos seu Filho, não obstante nossa ingratidão e rejeição.
A partir da ressurreição e glorificação, Jesus vive e habita o universo. Faz-se presente como o Vivente na Palavra proclamada, na comunidade reunida, em cada pessoa, no ministro seu servidor, no pão e vinho eucarísticos. Trata-se agora de uma presença real e concreta, mas de outra natureza. Jesus não percorre mais nossas ruas, não sussurra suas palavras em nossas praças, não pode mais ser tocado pelas nossas mãos e visto com nossos olhos. Porém, não está ausente. Ele continua sua obra e sua missão através de nós: fala pela nossa boca e contempla o mundo pelos nossos olhos, transforma a realidade pelas nossas mãos desde que o acolhamos. Podemos ser o seu coração num mundo sem coração e contribuir muito para humanizar nossa sociedade, se deixarmos que Ele nos conduza.
Pe. Paulo Roberto Gomes, mSC, Teólogo e Pároco da Comunidade S. Paulo, em Muriaé, MG
Embora junho seja o mês dedicado ao Coração de Jesus, este ano, excepcionalmente, sua festa vai acontecer no primeiro dia desse mês de julho, razão pela qual não poderia faltar nesse número de nossa revista, um artigo realçando Aquele que é o símbolo mais eloquente do amor de Deus.
E vamos encontrá-lo nas páginas vigorosas do Padre Ângelo Benedito Cortez, o qual, focalizando o aspecto da Reparação, vem resgatar esse culto de alto significado na melhor tradição da Igreja, mas para muitos, ultrapassado e “démodé”.
É verdade que, num passado, mais ou menos recente, a reparação foi cultuada em clave dolorista e cinzenta, um modo jansenista e medroso de aplacar a ira de Deus . . . Nada disso! Reparar, no seu sentido correto, significa desagravar a dor do Amor. Significa “amar o Amor que não é amado”.
No evangelho de João, nós lemos que “no mundo teremos muitas tribulações”, verdade que os Atos dos Apóstolos reafirmam quando dizem que “é preciso que passemos por muitos sofrimentos antes de entrar no Reino de Deus”. O sofrimento para nós cristãos, não é fim em si mesmo, não é exercício de masoquismo, algo patológico. Não! É o preço da coerência que pagamos pela fidelidade ao evangelho, na luta pela justiça, na compaixão pelos excluídos da sociedade.
Ou como diz o autor, esse sofrimento é OFERTA, é unir-se às dores da paixão do próprio Cristo.
Na página de Liturgia, vamos encontrar também um ato de consagração ao Coração de Jesus. Vocês, leitores, vão acompanhar também as peripécias do Padre Reuberson, bravo missionário, evangelizando nossos irmãos indígenas às margens do Rio Negro e seus afluentes; poderão aprender sempre mais com as sábias lições do Padre Paulo Roberto, sobre a catequese do Credo; os conceitos atualizados e vividos sobre missão, de nosso confrade de Porto Viejo, no Equador; as páginas sempre bem-vindas de Dom Agenor Girardi e aqueles temas costumeiros, mas enfocados com olhos sempre novos.
Tenham todos uma boa e proveitosa leitura!
A REDAÇÃO.
A ressurreição é a experiência feita pelos discípulos de Cristo após sua morte, na qual o perceberam como o Vivente no meio de nós. Não se trata da volta ou revificação de um cadáver, mas de uma transformação e transfiguração desse corpo mortal pelo poder de Deus num corpo glorioso e espiritual.
Para nós cristãos, um dado fundamental de nossa profissão de fé é a ressurreição de Cristo, que nos possibilita entender e crer na nossa ressurreição futura. Desde o Antigo Testamento vai crescendo, na consciência do Povo de Deus, a certeza de que nossa existência não se reduz ao aqui e agora. Aguardamos a justiça divina e a eternidade.
Os evangelhos, obras escritas para manter viva a fé da comunidade, anunciam que o Reino de Deus, ou seja, sua ação a nos governar acontece nesse mundo, direcionando-nos para as promessas futuras. Jesus, o profeta do Reino, fala de um mundo novo possível aqui, apontando para a plenitude vivida na eternidade.
A ressurreição é a experiência feita pelos discípulos de Cristo após sua morte, na qual o perceberam como o Vivente no meio de nós. Não se trata da volta ou revificação de um cadáver, mas de uma transformação e transfiguração desse corpo mortal pelo poder de Deus num corpo glorioso e espiritual (Cf. 1Cor 15,1-53). A Bíblia fala de ressurreição dos mortos e ressurreição do corpo para acentuar a continuidade da vida da pessoa. Na cultura bíblica o corpo é entendido como pessoa e a carne como criatura humana. O corpo biológico e corruptível será semeado no jardim do mundo. O corpo glorificado ou a carne – entendida como criatura humana – será recriado no poder de Deus.
Falar da ressurreição de Cristo significa afirmar que o Pai toma a defesa do justo, do inocente e do profeta que foi feito vítima por uma sociedade violenta e agressiva. Afirma a vitória da vida contra a morte, contra o pecado e o mal. Deus Pai, ao ressuscitar Jesus, toma sua defesa e confirma tudo o que Ele disse e fez.
Dizemos que Cristo ressuscitou ao terceiro dia. Sabemos que a ressurreição acontece no momento da morte como Lucas demonstra no episódio do ladrão crucificado (Cf. Lc 23, 39-43). Se contarmos a noite da sexta-feira, o sábado inteiro e o domingo pela manhã, não chegamos aos três dias cronológicos. Qual o significado então dos três dias? Os evangelistas utilizam Oséias 6, 2, que fala da esperança da ressurreição do povo, para dizer que em Cristo temos a certeza da nossa ressurreição. Portanto, professar a fé dizendo “ressuscitou ao terceiro dia” não é outra coisa senão professar nossa fé na ressurreição do Cristo e na ressurreição de todo o Povo de Deus. Esta é a nossa esperança que alimenta nossa fé na certeza que a vida, como Graça de Deus, jamais se perde.
Pe. Paulo Roberto Gomes, mSC é Teólogo e Pároco da Comunidade São Paulo, em Muriaé, MG
Há certas palavras que são fruto de uma época e, muitas vezes, não são mais compreendidas quando fora de certo contexto. Uma dessas palavras é REPARAÇÃO, no contexto da devoção ao CORAÇÃO DE JESUS. O contexto onde esta palavra surgiu, não é mais o mesmo, porém, na ausência de uma palavra mais adequada, continuamos utilizando-a. Muitos acham que o sentido de tal devoção é ultrapassado e muito dolorista ou juridicista. Isto é, entendem que, quando se fala de Reparação, estamos falando que temos que “consolar” e “refazer” “consertar”, “dar satisfação” a Deus por nossos erros. Deste modo, Deus seria um juiz implacável e que por nossos atos reparadores (nosso esforços) poderíamos aplacar a sua ira. Muitos aspectos da devoção ao Coração de Jesus precisam ser repensados e redescobertos.
Como já dissemos, as palavras são perigosas, porque sempre reduzem e empobrecem a grandeza da coisa a ser expressa. Com certeza, não é esse o conceito que as sagradas escrituras, Santo Agostinho, São Francisco, Santa Margarida Maria, Santa Teresa de Ávila e outros tantos queriam nos ensinar, ou seja: “o Amor não é amado”.
Esse é o sentido mais profundo da REPARAÇÃO em nossa devoção ao Coração de Jesus. Já sabemos que a devoção ao Coração de Jesus é uma síntese do amor de Deus. Na primeira carta de João, 4,8 lemos: “Deus é amor”. Portanto, Jesus sendo a imagem do Deus invisível (Cl1, 15) é o amor ao alcance de nosso coração humano. Tudo o que viveu, anunciou e sofreu por nós é a expressão mais genuína desse amor incomensurável de Deus. E Ele nos amou até o fim, ou melhor, pela ressurreição Ele destruiu o que seria o nosso fim: a morte. Portanto, ousamos dizer que Ele nos amou além do fim. Quando o Pai ressuscita Jesus, temos a certeza de que o amor triunfou. Mas, esse AMOR que tanto amou o mundo, como diz Santa Margarida Maria, tantas vezes só recebe ingratidão. Ou nas palavras de São Francisco e de Santa Teresa: “o Amor não é amado”.
Poderíamos nós REPARAR um pouco essa “dor do AMOR”. Poderíamos oferecer algo para aplacar esse grito de Jesus na Cruz: “tenho sede”? Seria um desperdício derramar, em oferenda, nossas dores, sofrimentos e sacrifícios aos pés de Jesus? Qual o sentido do sofrimento do dia a dia? Por que Jesus sofreu? Como completar em nossa carne o que faltou em sua paixão? Poderia ter faltado algo em tão perfeito sacrifício redentor? Enfim, uma multidão de perguntas nos levam ao encontro da questão da Reparação.
Deus não pode padecer, nos lembra o venerável são Bernardo de Claraval, mas, pode se com-padecer. Isso Ele fez quando assumiu nossa humana condição e por nós viveu e morreu apaixonadamente. Isso Ele continua fazendo quando abraça cada coração humano e sua miserável condição, principalmente nos que mais sofrem e são excluídos. Entendo a Reparação como nossa resposta de amor ao AMOR que nos criou, nos salvou e nos chama, constantemente, à santificação. Deus não busca explicar o amor, ama. Não procura explicar a razão do sofrimento, sofreu conosco e por nós, e assim, nos ensinou a romper com a espiral da violência, do ódio e de tudo que gera o verdadeiro sofrimento: a desumanização.
Entendo a Reparação como um sacrifício de amor. Isso quem me ensinou foi dona Laura e o Padre Romeo, num quarto de hospital, recebendo tratamento quimioterápico. Enquanto a medicação, gota a gota, penetrava as veias dos dois pacientes, falávamos sobre a vida, seu sentido e o porquê de tantos sofrimentos.
Dona Laura, tomada pela fraqueza, falava baixinho, mas o suficiente para que eu entendesse o sentido de sua esperança, força e vontade de lutar. Dizia ela: “graças a Deus entendo melhor agora o que é um sacrifício. Ultimamente, não posso falar muito de Deus. Muitas vezes, acho que não consigo nem rezar quando aperta a dor… Mas, minha missão tem sido oferecer um ofício sagrado: minha dor e meu sofrimento ao Coração de Jesus!”
Nessa hora pensei o que, por Cristo, com Cristo e em Cristo, rezamos em cada eucaristia: “Receba, Senhor, por suas mãos, este sacrifício, para a gloria de seu nome, para o nosso bem, e de toda a santa Igreja!” Quanta humanidade escondida na fragilidade física de cada um deste pacientes. Pensei sobre o quanto o mundo precisa de gente humana e humanizadora assim, e no verdadeiro sentido da eucaristia. Um Deus que se dá por amor e que aceita nosso amor como oferenda, também. Esta oferta gera comunhão!
Esta oferta é Reparação! Creio que podemos sim “oferecer” os pequenos sofrimentos do dia a dia, que nos ferem, com frequência, dando-lhes assim um sentido. O que significa “oferecer”? Assim, como para o Padre Romeo, dona Laura e tantos, “oferecer-se” é estar convencido de “poder inserir no grande “com-padecer de Cristo os seus sofrimentos diários”.
Entendo, também, que a solidariedade e a doação livre, muitas vezes, da própria vida, como os mártires, em favor dos pequenos, da justiça, da paz e de um mundo mais fraterno, são também comunhão no amor e resposta de amor: Reparação! Aliás, não nos esqueçamos de que esse é o grande critério de nossa salvação, segundo o evangelho de são Mateus, capítulo 25: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Na sede, fome, nudez… do pequeno, Deus aí está! Oferecer um copo de água ao pobre é matar a sede de Deus. Que mistério! A solidariedade é Reparação.
Como Francisco de Assis, Tereza de Ávila, Júlio Chevalier e tantos outros, nunca nos cansemos de gritar, por toda a parte: Amado seja o AMOR, amado seja o Sagrado Coração de Jesus! Eternamente!
Pe. Benedito Ângelo Cortez, mSC é membro da Província de São Paulo dos Missionários do Sagrado Coração.
Junho é o mês de nossos santos populares, Pedro, Antônio e João Batista, os santos das festas juninas, com quadrilhas, fogueiras e balões, celebrações trazidas de Portugal, sem muito conteúdo espiritual e teológico. Por exemplo, João Batista, quem diria, o santo austero, o batizador das margens do Jordão, se transmuda em santo festeiro, pendurado na ponta dos mastros de nossos terreiros juninos …
Mas junho é também o mês dedicado ao Coração de Jesus, cuja festa litúrgica, este ano, será celebrada no primeiro dia do mês seguinte. É verdade que nossa revista é de Nossa Senhora e procura realçar a devoção e a espiritualidade da Mãe de Deus, mas o seu título de Nossa Senhora do Sagrado Coração, ao menos indiretamente, focaliza também o mistério do amor de Deus simbolizado no Coração do Filho. Prova disso é o artigo sobre Maria, na teologia de Lucas, segundo o Padre Bovenmars, um confrade holandês, bem como a matéria do Padre Cortez, tematizando as palavras de Jesus, na cruz, quando
nos deu Maria por mãe: “ao apontar para o Coração de seu Filho, ela nos ensina que, quando o espírito chega ao nosso coração, o medo se vai, as portas se abrem, a noite se faz dia.”
Além daquelas colunas com os temas costumeiros, vocês vão compartilhar conosco o coroamento dos festejos alusivos ao centenário da chegada dos primeiros Missionários do Sagrado Coração ao Brasil, como a assembleia em Atibaia, a visita sentimental a Pouso Alegre, local onde nossos confrades iniciaram seus trabalhos e, afinal, a eucaristia solene e o almoço festivo na cidade de Itajubá, onde os missionários trabalham há quase 100 anos.
Que essas páginas, falando de nossas coisas, nossos trabalhos e nossas aspirações, sob o olhar e a proteção de Maria, ajudem vocês, caros leitores, a partilhar conosco o canto de ação de graças que elevamos ao Senhor.
LAUS DEO ET MARIAE !
A Redação.
Texto: Pe. Antonio Carlos de Meira, mSC
Apresentamos aqui, neste espaço mensal da “Revista de Nossa Senhora”, uma pequena síntese de um trabalho que fizemos em função da formação da vida religiosa equatoriana, portanto, vários pontos apresentados aqui, foram trabalhados em equipe. Trata-se de uma tentativa de encontrar caminhos dentro dos novos panoramas culturais, dentro das grandes mudanças do mundo atual. Todos sabem que não é uma coisa simples, mas toda tentativa de fidelidade ao Evangelho nos parece valida. É uma visão missionária, mais que tudo.
Vivemos uma profunda transformação na maneira de conceber o mundo, onde a compreensão do tempo e do espaço vai mudando, o que leva a um sem-número de mudanças em nossa convivência diária. Como entender as novas linguagens que invadem todos os âmbitos da família, da religião e da sociedade?
Na vida cotidiana sentimos o desencontro das expressões culturais, religiosas até agora consideradas sagradas. Estes movimentos transformadores são acelerados pelo fenômeno da globalização, que generaliza os padrões de linguagem em todos os rincões da terra.
Nesta dinâmica globalizada, a comunicação chegou a ser o símbolo mais representativo. Os jovens habitam um novo ambiente- cultural, digital que os leva a viver “always on” (sempre conectados). Para as novas gerações o presente assume um valor inestimável. O que conta é o hoje, aqui e agora.
Neste mesmo sentido, a missão evangelizadora fica debilitada, não podendo continuar com os modelos anteriores. Sentimo-nos desafiados pelos novos estilos de linguagem. É necessário arriscar-se nos novos horizontes e buscar novas maneiras no atuar missionário que reclama o mundo de hoje, sem se esquecer de que “a alegria do discípulo é o antídoto frente a uma realidade atemorizada pelo futuro e assustada pela violência e o ódio do presente. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta, ao contrario, é uma certeza que brota da Fé, que serena o coração e capacita para o anuncio da boa noticia do Amor de Deus”.(DA 32)
Nossa missão situa-se no limite, numa fronteira entre dois campos, no umbral entre o aqui e o além, do aqui e agora. O missionário nunca fala da presença de
Deus sem invocar sua ausência (cf. Lc. 12, 35 -38). O difícil nesta fronteira é que o alem da realidade conhecida nos assusta e cria medos; estes novos espaços são caminhos desconhecidos que nos ameaçam dando a impressão de que vamos fracassar. Muitas vezes, andamos perdidos no meio de uma linguagem estranha a nosso estilo convencional. Como o velho Abraão, andamos pelo deserto somente com a promessa de que algo pode nascer disto tudo.
Às vezes fico meditando a realidade deste lugar aonde viemos estabelecer uma casa missionária. Na periferia desta cidade, marcada pelo estigma violência, uma multidão atravessa nossos olhos: crianças correndo nas ruas, mães violentadas no próprio lar e não sei quantos jovens perdidos no caminho da droga; os sons das igrejas nestes ambientes ficam quase silenciados pelo barulho das musicas: cumbias, vallenatos, salsas, merengues. Desencontros de linguagem? Onde está o caminho do Evangelho?
Jesus foi uma pessoa nos limites ou nas margens das fronteiras culturais do seu tempo: foi um judeu marginal, situado à margem do império romano, à margem do povo de Israel, às margens do mundo leigo do seu povo, e morreu como marginal. (John P. Meyer)
O anúncio do Evangelho significou a chegada do novo tempo na sua pessoa, nas suas atividades e nas suas palavras. Sua vinda implicou em mudar antigas concepções religiosas e a emergência de uma nova visão de Deus e do mundo. “O tempo está cumprido e já chega o reino de Deus: convertei-vos e crede na boa noticia”. ( cf. Mc 1, 15)
A paixão pela Boa Noticia levou as primeiras comunidades, nos tempos de perseguição, a colocar toda a confiança no Senhor da história. Despertou a consciência critica ante o império governado por um sistema de morte, enfrentando a idolatria, mantendo-se os discípulos unidos ao reino da vida. ( cf. Ap. 2, 19-28).
A atualidade é um novo amanhecer que indica novos horizontes e exige de cada um uma espécie de mutação. O documento de Aparecida nos recorda que a Igreja é chamada a repensar e relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstancias latino-americanas e mundiais. Não pode concordar com aqueles que veem somente confusão, perigos e ameaças. Somos chamados a confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho em nossa historia desde um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo e que suscite discípulos e missionários. Isso não dependerá de grandes programas e estruturas, mas de homens e mulheres que encarnem esta alegre tradição e novidade, como discípulos de Jesus Cristo e missionários do Reino, para anunciar a vida nova para a América Latina que quer reconhecer-se como a luz e a força do Espírito. (cf. DA 11)
“Neste momento em que nos encarnamos na realidade do mundo de hoje, não podemos perder o horizonte, a visão, pois sem olhar, a gente perece”. (Prov. 29, 18), e sua visão e centro estão em Jesus Cristo e no Reino de Deus.
A nova esperança e o ardor pelo evangelho também significam ver a realidade desde a ótica dos sofredores do mundo; colocando-se à margem das estruturas, desde a fragilidade e do não-poder. Também supõe uma opção decidida pelos marginalizados e excluídos, evangelizando-os e sendo evangelizados por eles, a partir desses lugares e destas experiências, evangelizar toda a humanidade.
Pe. Antonio Carlos de Meira, mSC é missionário no Equador.
Muitas vezes ouvimos dizer que a cruz de Cristo nos salva. Sem dúvida, é verdade, mas devemos entender bem a afirmação, pois um pedaço de madeira sobre o outro não pode salvar ninguém. Trata-se da cruz entendida como símbolo de toda a vida, morte e ressurreição do Senhor. O mesmo se deve dizer da expressão “o sangue de Jesus nos salva”. Sangue, na língua de Jesus, representa a vida. É o mesmo que dizer: a vida de Jesus nos salva.
Aquele que foi crucificado, morto e sepultado não foi outro senão o inocente e justo Filho de Deus que se colocou a serviço dos pobres e excluídos, anunciando-lhes o Reino de Deus. Sua vida de total despojamento era a transparência do amor gratuito e incondicional do Pai. Por amar, Ele abraça as contradições, os conflitos e as perseguições por causa de sua missão. Portanto, o que nos salva é o amor de Deus e não seu sofrimento.
A morte de Jesus na cruz é um sacrifício. Infelizmente, a palavra assumiu o significado de dor. Na realidade, sacrifício significa entrega, disponibilidade para o outro. A vida toda de Jesus é entrega nas mãos do Pai, entrega a favor dos irmãos e irmãs, disponibilidade para servir onde houver alguém sofrendo. Sem dúvidas, essa entrega e disponibilidade, num mundo violento e marcado pelo pecado, devem assumir as dificuldades e contradições da vida.
Somente Aquele que trilhou o nosso caminho, abraçou a dureza cotidiana da existência, riu e chorou, trabalhou e descansou, fez a experiência da exclusão, da injustiça e desceu ao mais baixo da humilhação, da tortura e da morte está apto a nos consolar. Ele verdadeiramente desceu ao mais fundo do poço da existência humana. Por isso, muitos que sofrem encontram um pouco de alívio e consolo diante de sua imagem como Cristo morto e crucificado.
Quando dizemos no Credo que Cristo foi morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos, estamos nos referindo à sua morte de fato. Sofre e morre o “verdadeiramente homem e Deus” apaixonado pela humanidade, interessado pela nossa vida, comprometido com nossa felicidade e salvação. A morte é o destino de todo ser vivo. No entanto, a morte de Jesus é provocada. Sobre Ele é descarregada toda a violência e agressividade humana por aqueles que não aceitaram as mudanças, em suas vidas e na sociedade, propostas pelo Reino de Deus. Sua morte na cruz, abandonado por todos, trouxe-lhe a sensação de ter sido abandonado até mesmo pelo Pai. Cristo morre como um fracassado, rejeitado por todos com um grito histórico: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mc 15,34)
Pe. Paulo Roberto Gomes, mSC é Teólogo e Pároco da Comunidade S.Paulo
CAROS LEITORES,
Neste mês de maio, mês de Maria, claro que a Mãe de Deus tem espaço especial em nossa revista. Aliás, sempre teve. Padre Bovnmars continua escrevendo sobre a Renovação da Teologia Mariana do pós-Concílio. Ele cita ainda uma vez o Padre Cuskelly, de saudosa memória, o homem que, no ministério de Superior Geral da Congregação, redescobriu a espiritualidade do Sagrado Coração.
Há quem o chame de o São Boaventura dos MSC, o segundo fundador de nossa família religiosa. Cuskelly faz nova apresentação de Nossa Senhora do S. Coração. Para ele, o Coração de Jesus é o centro, mas desde o início havia uma relação muito profunda com Maria. A começar pela famosa novena dos primórdios da fundação, costumamos dizer que “Ela é aquela que tudo faz em nossa Congregação”.
O teologante Michel também escreve sobre o nosso santuário nacional, a Casa de Maria, em Vila Formosa, São Paulo, onde, no final do mês será celebrada mais uma soleníssima festa em louvor a Nossa Senhora do Sagrado Coração. Padre Zezinho, por sua vez, discorre sobre Maria, fornecendo pistas para o discernimento sobre a autenticidade de certas visões ou aparições.Tudo isto, sem falar da página dos fieis devotos que agradecem Maria por todas as graças recebidas.
Nossa sessão de espiritualidade agora é assinada por Dom Agenor Girardi, hoje Bispo Auxiliar de Porto Alegre, responsável pelo Vicariato de Canoas. A cerimônia de sua ordenação, no Centro de Eventos de Francisco Beltrão, com a participação de cerca
de seis mil fieis, rezando pelo novo pastor, foi uma festa muito bonita. O importante é que ele continuará frequentando as páginas de nossa revista, com seus artigos sempre tão apreciados.
Vocês, leitores, terão ainda a companhia do Antônio Carlos de Meira, contando as suas peripécias no litoral do Equador, bem como o Reuberson, missionário em São Gabriel da Cachoeira, AM, anunciando a boa nova do evangelho às populações ribeirinhas daqueles rincões do norte. Padre Paulo Roberto continua com suas reflexões sobre o Credo do Povo de Deus, há ainda a sessão de Liturgia e outros assuntos mais.
Tenham uma proveitosa leitura e, nesse tempo pós-pascal, na companhia de Maria, a Virgem da Ressurreição, e continuem buscando as coisas do alto.
A DIREÇÃO.