O convite de Jesus feito aos seus discípulos continua o mesmo, “vem e segue-me”. Tão antigo e tão atual este convite tem a mesma intenção original de convocar novos operários à messe. Os desafios que encontramos nos nossos seminários e também nas diversas pastorais de nossas comunidades que sofrem com a falta de leigos que estejam dispostos a assumirem um compromisso maior com a Igreja não é uma questão de vocação. Vocação todos os batizados têm e o chamado é feito a todo instante pelo Senhor da messe através das necessidades que observamos nas nossas comunidades. Quem sabe o desafio vocacional nas nossas paróquias seja o de tirar as pessoas do seu comodismo apático e levá-las a encontrar o seu lugar de atuação pastoral dentro da Igreja.
Enquanto instituição religiosa e mãe dos fiéis, a Igreja tem um campo enorme de atuação pastoral e missionário. Foi-se o tempo em que o trabalho de evangelização ficava somente a cargo dos padres, religiosos e religiosas. É claro que estes têm um papel fundamental e próprio do tipo de vida a que foram chamados. Como sinais no mundo eles devem anunciar o Evangelho de Cristo por meio de uma doação total, mas só conseguirão ir mais além no exercício deste trabalho específico se puderem contar com o esforço de todo o povo de Deus enquanto co-responsáveis no processo de evangelização.
Criamos uma falsa ideia de que vocação é algo somente para padre e freira, isso dá a impressão de que todas as outras pessoas não são vocacionadas e estão isentas de um compromisso religioso. Se alguns foram chamados a uma vocação específica não quer dizer que as outras formas de serviço dentro da comunidade não sejam também uma vocação, na verdade Deus chama todos os cristãos a assumi-las e aguarda uma resposta concreta de cada um.
No Decreto sobre o apostolado dos leigos, a Igreja ensina que todos os homens são participantes da redenção salvadora e que por meio deles todo o mundo seja efetivamente ordenado para Cristo. O apostolado da Igreja é para todos os seus membros, a vocação cristã é também vocação ao apostolado e ninguém deve se comportar de maneira passiva, mas participar do seu crescimento (Cf. AA 1,2).
O vocacionado leigo pode chegar e atingir lugares onde dificilmente a Igreja conseguiria chegar senão por meio dele, como nas escolas, nos ambientes de trabalho, dentro de casa, no comércio, na política, nos movimentos sociais. E o testemunho evangélico pode ser o maior instrumento evangelizador expressando pelas atitudes os princípios cristãos.
O padre Júlio Chevalier, fundador dos Missionários do Sagrado Coração, disse certa vez: “precisa-se de homens cheios de espírito de oração e de zelo apostólico, que estejam sempre prontos a doarem tudo e a doarem a si mesmos aos irmãos. Sejamos todos tais homens, e então seremos verdadeiros apóstolos do Coração de Jesus”. Embora escrevesse para os seus filhos espirituais, esta frase do padre Júlio é válida para toda a Igreja que é missionária por excelência através de cada um de seus membros sem nenhuma exclusão. O compromisso da Igreja frente ao mundo é compromisso de todos nós que caminhamos com ela.
Fr. Girley de Oliveira Reis, mSC é seminarista religioso e cursa o 3º ano de teologia