Revista de Nossa Senhora
  • Administração: Rua Angá, 994 – VI. Formosa – São Paulo – SP
  • Telefax: (11) 2211-7873 – E-mail: contato@revistadenossasenhora.com.br


o ócio das férias

Publicado em 1 de julho de 2014 / Reportagens >

un niño pensando en soledadO ano gira na dobradiça das férias. Associam-se a tal tempo divertimento, descanso, passeio, viagens. Interrompemos as atividades laborais ou escolares para entregar-nos ao ócio. O termo conserva em Latim tom positivo. Aqueles, que terminavam honradamente as tarefas impositivas da vida, à guisa do aposentado de hoje, os romanos reconheciam gozar do otium cum dignitate. E viam em tal fase da vida a excelente oportunidade para dedicar-se às letras. “O ócio sem letras é como a morte e a sepultura do homem vivo”, pontifica Sêneca.

Se férias e ócio se entrelaçam, a ambos não devem faltar as letras. Não se ocupa o tempo livre, que o termo ócio denota, com vacuidades. Vazio não enche vazio. Ao abrirmos brechas na vida de trabalho e de obrigações escolares, cabe-nos preenchê-las. Vale de todo ser humano a expressão latina de que horret vacuum – tem horror ao vazio.

A questão se impõe como ocupá-lo. Aí está o busílis do assunto. A cultura pós-moderna invade os silêncios com os sons. Criou inúmeros artefatos que batalham todo o tempo o ouvido e o cérebro da nova geração. Dorme ouvindo, acorda ouvindo. Não há pausa. Não há ócio. E então não cabem as letras do ler e do pensar. Só existe o ruído.

Vão sugestões para as férias. Cada dia encontrar no fluir das horas algum tempo para atividades altamente humanas e repousantes: Contemplação, leitura e conversas gratuitas. Às vezes, as três casam, quando lemos algo que nos arranca do livro, projeta-nos para a profundidade interior onde habitam as maiores belezas e terminamos na partilha.

A contemplação alimenta-se da memória. Ela carrega o passado na dupla faceta das experiências gratificantes como das dolorosas. Ambas nos permitem vivenciar a verdadeira humanidade que se constitui de alegrias e tristezas, de prazer e dor, de realizações e fracassos.

No ócio das férias faz bem reviver momentos de beleza do passado, revigorando-nos as energias. E as horas sombrias merecem também olhar de reconciliação com nós mesmos e com as fontes da dor. Tudo isso nos põe próximos dos outros humanos que vivem também experiências semelhantes. Nada nos desumaniza tanto quanto postar-nos como heróis, exceções, sobrenadando ao lado da fragilidade humana. A arrogância existencial destrói-nos o senso de humanidade.

A contemplação tranquila de nós mesmos e da própria vida serena-nos o coração nos tempos de silêncio do ócio das férias. Calar-se não significa tristeza nem incomunicabilidade. Mas refontização para melhorar as relações.

Dois outros espaços abrem-se-nos nas férias. Entregar-nos a leituras que nos imerjam na realidade. E lá nos encontramos retratados. Passeamos por paragens maravilhosas. Some-se a esses voos pelo mundo fascinante da literatura o cultivo das relações pessoais em conversas gratuitas e leves. Como nos enriquecemos ao tagarelar com amigos e ouvir deles as belezas do universo dos livros. Assim o ócio deixa de ser vazio para plenificar-nos a anima e o ânimo.

Pe. João Batista Libânio, SJ (in memorian)

O ano gira na dobradiça das férias. Associam-se a tal tempo divertimento, descanso, passeio, viagens. Interrompemos as atividades laborais ou escolares para entregar-nos ao ócio. O termo conserva em Latim tom positivo. Aqueles, que terminavam honradamente as tarefas impositivas da vida, à guisa do aposentado de hoje, os romanos reconheciam gozar do otium cum dignitate. E viam em tal fase da vida a excelente oportunidade para dedicar-se às letras. “O ócio sem letras é como a morte e a sepultura do homem vivo”, pontifica Sêneca.Se férias e ócio se entrelaçam, a ambos não devem faltar as letras. Não se ocupa o tempo livre, que o termo ócio denota, com vacuidades. Vazio não enche vazio. Ao abrirmos brechas na vida de trabalho e de obrigações escolares, cabe-nos preenchê-las. Vale de todo ser humano a expressão latina de que horret vacuum – tem horror ao vazio.A questão se impõe como ocupá-lo. Aí está o busílis do assunto. A cultura pós-moderna invade os silêncios com os sons. Criou inúmeros artefatos que batalham todo o tempo o ouvido e o cérebro da nova geração. Dorme ouvindo, acorda ouvindo. Não há pausa. Não há ócio. E então não cabem as letras do ler e do pensar. Só existe o ruído.Vão sugestões para as férias. Cada dia encontrar no fluir das horas algum tempo para atividades altamente humanas e repousantes: Contemplação, leitura e conversas gratuitas. Às vezes, as três casam, quando lemos algo que nos arranca do livro, projeta-nos para a profundidade interior onde habitam as maiores belezas e terminamos na partilha.A contemplação alimenta-se da memória. Ela carrega o passado na dupla faceta das experiências gratificantes como das dolorosas. Ambas nos permitem vivenciar a verdadeira humanidade que se constitui de alegrias e tristezas, de prazer e dor, de realizações e fracassos.No ócio das férias faz bem reviver momentos de beleza do passado, revigorando-nos as energias. E as horas sombrias merecem também olhar de reconciliação com nós mesmos e com as fontes da dor. Tudo isso nos põe próximos dos outros humanos que vivem também experiências semelhantes. Nada nos desumaniza tanto quanto postar-nos como heróis, exceções, sobrenadando ao lado da fragilidade humana. A arrogância existencial destrói-nos o senso de humanidade.A contemplação tranquila de nós mesmos e da própria vida serena-nos o coração nos tempos de silêncio do ócio das férias. Calar-se não significa tristeza nem incomunicabilidade. Mas refontização para melhorar as relações.Dois outros espaços abrem-se-nos nas férias. Entregar-nos a leituras que nos imerjam na realidade. E lá nos encontramos retratados. Passeamos por paragens maravilhosas. Some-se a esses voos pelo mundo fascinante da literatura o cultivo das relações pessoais em conversas gratuitas e leves. Como nos enriquecemos ao tagarelar com amigos e ouvir deles as belezas do universo dos livros. Assim o ócio deixa de ser vazio para plenificar-nos a anima e o ânimo.

Pe. João Batista Libânio, SJ (in memorian)