Quanto sofrimento poderíamos evitar se não alimentássemos certos lobos que vivem dentro de nós! É uma questão de opção. Quando damos corda aos sentimentos mesquinhos, do ódio, da inveja, do desprezo, do preconceito, alimentamos nossos lobos interiores.
O lobo é um animal feroz, anda sempre em grupo, e tem um peculiar instinto que o leva a viver em sociedade. No imaginário popular e no folclore de muitas culturas, é símbolo de vida selvagem, inclusive empresta sua imagem para a mitologia dos terríveis lobisomens. Mas, vez por outra, aparece também em historias infantis ou não, como animal dócil. Quem não se lembra de “Pedro e o Lobo”, uma linda historia de amizade de um garotinho russo e um lobo imortalizado por Walt Disney? E do premiadíssimo filme “Dança com Lobos”, ganhador do Oscar de melhor filme de 1990, onde Kevin Costner faz amizade com uma matilha de lobos no velho oeste americano? Ate São Francisco de Assis manteve uma amizade bonita com um lobo, que segundo conta a historia, foi salvo da morte pela intervenção do santo junto aos seus caçadores.
Pois, foi usando a metáfora desses selvagens animais que um velho sábio indígena norte americano nos explicou, de forma simples, algo que é crucial para o nosso convívio humano. Estava o velho índio conversando com sua gente ao redor de uma fogueira quando o assunto caminhou para as lutas interiores travadas dentro de cada pessoa. O velho disse: Dentro de mim dois lobos lutam dia e noite para me dominar. Um é o lobo do amor, e o outro do ódio. Alguém da assistência perguntou: Mestre, qual dos dois lobos vai vencer essa luta? Ele respondeu: aquele que eu alimentar.
Quanto sofrimento poderíamos evitar se não alimentássemos certos lobos que vivem dentro de nós! É uma questão de opção. Quando damos corda aos sentimentos mesquinhos, do ódio, da inveja, do desprezo, do preconceito, alimentamos nossos lobos interiores. Estes, quanto mais bem alimentados, mais fortes ficarão, e exigirão cada vez mais que os alimentemos. Portanto, não percamos nosso tempo com isso. Alimentemos, sim, nosso lobo do amor, da alegria, da paz, da fraternidade. Com esses alimentos eles se tornam bem mansos, e podem até nos ajudar, ao invés de nos atacar conforme dita a sua natureza selvagem. Tenho visto gente que vive sob um jugo enorme de sofrimento, porque gasta toda sua energia alimentando maus sentimentos. É uma pena, porque a mesma energia pode fazer exatamente o contrario, ou seja, alimentar atitudes que levarão a pessoa a ter uma qualidade de vida muito melhor. Os santos e santas que conhecemos, dentro e fora de nossa Igreja, foram especialistas na arte de dominar lobos interiores. Com muita disciplina e rigor os amansaram dia a dia, alimentando a sua natureza selvagem com o alimento do amor. Deveríamos fazer o mesmo, como São Francisco e tantos outros: manter nosso lobo mansinho aos nossos pés como se fosse um inofensivo cachorrinho de estimação, bonito e bem cuidado.
Pe. Alex Sandro Sudré, mSC é Pároco da Comunidade Paroquial de São José, em Campinas, SP.