Esta página introdutória a que chamamos editorial, é a cortina que se abre para mostrar o palco, o cenário e os atores de um espetáculo diferente, uma peça cuja temática enfoca a vida e o mundo a partir dos valores do Reino. Diretores, atores, técnicos e sonoplastas levam a marca de uma companhia que se inspira na ação de Deus, por seu Filho Jesus Cristo e por Maria, sua Mãe, a quem nomeamos Nossa Senhora do Sagrado Coração.
Se vale a pena curtir todos os capítulos da peça, gostaria que o leitor prestasse atenção à coluna da espiritualidade, artigo da lavra de nosso confrade-bispo, D. Agenor Girardi.
Comentando o capítulo 21 de São João, – uma espécie de apêndice de seu evangelho, redigido por algum de seus discípulos, – após a pesca da madrugada, o espanto dos apóstolos e a refeição na praia, Jesus quer ajustar as contas com Pedro, aquele que, alguns dias antes, o traíra três vezes. ´- Simão, filho de João, tu me amas, pergunta-lhe Jesus por três vezes, lembrando a Pedro seu pai, resgatando sua família de sangue para depois inseri-lo na grande família da Igreja. Os dois verbos diferentes, usados por Jesus e Pedro,
no original grego, nos mostram o apóstolo contrito e humilhado, bem como a misericórdia de Jesus que não apenas o perdoa, mas o confirma como chefe de sua Igreja: – Apascenta meus cordeiros, apascenta minhas ovelhas!
Então revigorado, Pedro assume sua missão e cumpre a promessa de seguir Jesus até
a morte, promessa que fizera antes da paixão e não cumprira, mas que agora vai levá-lo até Roma, onde também derramará seu sangue, na cruz, como seu Mestre e Senhor.
A REDAÇÃO.
Deus inaugurou a nova e eterna Aliança com a cooperação direta de três leigos: Jesus, Maria e José. Uma dona de casa, um artesão e seu aprendiz. Quando o aprendiz se tornou Mestre e buscou seus discípulos, foi encontrá-los em suas tarefas seculares: Pedro, no barco de pesca; Mateus, na banca de impostos; Tadeu, entre os guerrilheiros zelotas.
Jesus procurava trabalhadores para sua vinha – esta é imagem evangélica que João Paulo II usou na introdução da Encíclica “Christifideles Laici” [Vocação e Missão dos leigos na Igreja e no Mundo – dezembro de 1988]. Havia sacerdotes no Israel daquele tempo, mas o Mestre não se interessou por eles. Parece que não buscava teólogos nem escribas, e foi achar os discípulos no meio do povo. Suados, cansados, mãos calejadas como costuma ser o povo…
Povo? Exatamente! O termo “leigo” está ligado ao grego “laos”, que significa “povo”, “massa do povo”, mas também “soldados”, “combatentes”. Como escreveu João Paulo II, o convite de Jesus se faz sentir “ao longo da história” e se dirige “a todo homem que vem a este mundo”. (ChL, 2.) E é ainda mais explícito: “A chamada não diz respeito apenas aos pastores, aos sacerdotes, aos religiosos e religiosas, mas estende-se aos fiéis leigos: também os leigos são pessoalmente chamados pelo Senhor, de quem recebem uma missão para a Igreja e para o mundo”. (ChL, 2.)
Nestes vinte séculos de história, a Igreja viu os fiéis leigos edificando catedrais e drenando os pântanos da Europa. Eles copiaram as Escrituras e enterraram as vítimas da peste. Sustentaram os apóstolos com seu trabalho manual e rezaram pelos missionários da linha de frente. Ali aonde chegou a Igreja, os leigos marcaram sua presença. Alfabetizaram, catequizaram, formaram orquestras e corais, organizaram bibliotecas e, do culto, extraíram a cultura.
Se houve de fato uma fase de clericalismo na Igreja, com os fiéis reduzidos a ouvintes passivos, o Concílio Vaticano II veio espanar a poeira desse desvio. Nascido em 1944, eu vi pessoalmente o abalo sísmico do Concílio, quando as batinas caíram por terra, o vernáculo foi adotado e celebramos a “missa dialogada”.
Mas estes são apenas sinais “ad intra”. Muito mais importante é a presença do leigo nas Comunidades Novas, muitas vezes como consagrados, vivendo uma rica espiritualidade que já não se encontra em alguns Institutos religiosos. É assim que a Aliança de Misericórdia evangeliza a população de rua. A Jesus Menino adota deficientes físicos e mentais, formando família com eles. O Caminho Novo estende pontes entre as diferentes denominações cristãs. A Nova Aliança prega o Evangelho e forma lideranças para as paróquias. E estas são apenas algumas entre dezenas de Comunidades de leigos católicos.
Eu sou leigo, casado, 2 filhos, 5 netos. Há 33 anos evangelizo nas escolas e nos presídios, no rádio e na TV, em jornais e revistas. Publico uma reflexão diária na Internet. Escrevi e traduzi mais de 30 livros de conteúdo cristão. Fiz cerca de 330 viagens missionárias pelo Brasil, pregando Evangelho, colaborando na formação de seminaristas, catequistas e equipes de pastoral.
Minha ação é uma resposta de amor à Mãe Igreja, que me gerou para a vida do Espírito. Enquanto o Senhor nos der forças e ânimo, estaremos presentes…
Antônio Carlos Santini,
Comunidade Católica Nova Aliança.
Fato mais comum do que se imagina, há milhões de casais que nunca deveriam ter se casado, da mesma forma que há profissionais que nunca deveriam estar no posto e na profissão que exercem. A aptidão deveria ser requisito fundamental, tanto para o policial como para o político, tanto para o médico como para o pregador. Deveria também ser exigência inegociável para quem vai viver junto e gerar filhos, de quem supostamente cuidará por vinte a trinta anos até que estes se casem e formem seu próprio ninho.
Exige-se atestado para centenas de funções e missões, mas para o casamento raramente se exige atestado de sanidade mental e de capacidade de vida a dois. O outro é fundamental!
E há indivíduos que não conseguem o mínimo grau de alteridade para conviver com pais e irmãos; menos ainda com esposo ou esposa. Pode não parecer, mas para dormir no mesmo leito, comer à mesma mesa e partilhar os mesmos cômodos há um mínimo de requisitos a se cumprir, sem os quais haverá atritos e agressões.
Quem bate na pessoa “amada” , ou na pessoa que o ama; quem vive de suspeitas infundadas; quem morre de ciúmes ou a espanca, quem acha que nada tem a corrigir, mas exige que a outra pessoa mude; quem tem uma lista de defeitos para o cônjuge e admite no máximo um ou dois defeitos para si; quem levanta a mão, ameaça e bate; quem espanca e depois chora pedindo perdão; quem hoje acaricia e amanhã enche de pancadas… esse tipo de pessoa não está apta para o matrimônio. Não é invenção minha. Dizem-no psicólogos, psiquiatras, médicos, sacerdotes, educadores e autoridades.
O número assustador de cônjuges feridos, espancados, humilhados por calúnias, suspeitas, difamações e palavrões, tratados com desprezo e alvo de piadas infames faz pensar nos rumos de nossa sociedade. Se não devemos formar profissionais incompetentes, o Estado não deveria assinar embaixo de contratos matrimoniais, nem as igrejas abençoar uniões nas quais um dos cônjuges não tem capacidade de perdoar ou de pedir desculpas. Menos ainda uniões nas quais um dos dois primeiro bate e depois chora porque bateu.
Há tratamentos para isso. Em alguns casos a pessoa se regenera; em outros é duvidoso que a pessoa mude. Psicólogos explicam em detalhes para quem quiser saber em que consiste a aptidão ou inaptidão para a vida a dois.
Quem coisifica esposo ou esposa mostra incapacidade de vê-lo(a) como pessoa. Ser mais gentil com o cão do que com os familiares deveria ser crime. E é!
Pe. Zezinho, SCJ, é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais.