Nada mais prazeroso nesta vida
Que a conversa,
Que a boa prosa com quem se gosta.
Tanto melhor se houver uma boa notícia pra dar.
Eis o Natal.
Conversa de Deus-Conosco,
Palavra do Pai entre nós,
Boa notícia: O Amado chegou!
Veio falar da vida
Veio nos dar a vida
Veio transformar a vida.
Vida! Eis o Natal!
Olhar o rosto de Deus e ver o nosso próprio rosto
Olhá-lo e se dar conta do que Ele nos convida a ser
Conversa boa, troca de olhares
Natal…
Mais um ano.
Insistência de Deus a nos lembrar:
“Alarga teus braços do tamanho do Céu
Hoje quero nascer em ti!
Abraça-me a mim,
Abraça a minha humanidade!
Deixa-me nascer em ti!”
Fernando Clemente, MSC
E nossa revista, entre aquelas colunas que vocês se acostumaram a saborear, coloca , este mês, uma ênfase muito especial na solenidade da natividade do Senhor. Se não, vejamos: há três suplementos sobre a festa, os dois primeiros discorrendo sobre uma celebração para crianças e para a família, respectivamente. O terceiro fala de símbolos e ritos que, indo além dos sinais exteriores, nos levam a mergulhar no mistério do amor de Deus por nós, revelado em Jesus.
A coluna sobre Maria, partindo da citação de Lucas, 2, 6-12, acentua os sinais, especialmente o sinal dado pelos anjos aos pastores: “Acaba de nascer para vós o Salvador”. Claro que Jesus nasceu pra todos nós, mas desde as primeiras páginas do evangelho, Deus revela sua predileção pelos pequenos e pobres. E lembra o apóstolo: “O que é loucura para o mundo, Deus escolheu para confundir os sábios” 1 Cor. 1, 27-29.
Na página sobre o Coração de Jesus, Padre Cortez diz que o coração do Deus-Menino pulsa em nossa história, tornando-nos mais humanos, porque aqui o humano e o divino se abraçam. Natal é encontro.
Nosso poeta, o Fernando Clemente, em versos singelos, nos fala de uma prosa-conversa com a Palavra-Verbo de Deus… Jesus, que um dia nasceu em Belém, hoje nos diz: “ Abraça a minha humanidade, deixa-me nascer em ti”.
Caros leitores, um santo e feliz Natal !
A Redação.
Assim, Lucas mostra que o Ressuscitado caminha conosco, conhece nossas tristezas, instrui-nos pelas Escrituras e ao celebrar a Eucaristia conosco, envia-nos em missão. O irmão, a Palavra e a Eucaristia, a partir da vivência em comunidade, são as formas de experimentar o Cristo Vivo
Jesus foi crucificado na sexta-feira, véspera da Páscoa celebrada pelos judeus. Sua ressurreição é apresentada no primeiro dia da semana – quando tudo recomeça – e ao amanhecer do dia. Um novo dia é oportunidade de nova luz para recomeçar a vida. As primeiras testemunhas da Ressurreição são as mulheres marginalizadas da época (24,1-12). Pela sociedade não podiam ser testemunhas, por Deus a palavra delas é verdade.
Ao falarmos da Ressurreição de Jesus devemos tomar alguns cuidados. Não se trata de um cadáver que volta à vida, ainda que o cadáver de Jesus possa ter passado por uma transformação. Outro cuidado: a única forma de falar de algo grandioso como a vida nova em Deus era usando imagens. Não podemos tomar as imagens ao pé da letra, mas como ilustrações para compreender a mensagem.
Assim, Lucas mostra que o Ressuscitado caminha conosco, conhece nossas tristezas, instrui-nos pelas Escrituras e ao celebrar a Eucaristia conosco, envia-nos em missão. O irmão, a Palavra e a Eucaristia, a partir da vivência em comunidade, são as formas de experimentar o Cristo Vivo (24,13-35). A insistência nas chagas das mãos e dos pés é uma forma de o evangelista mostrar que o ressuscitado não é um fantasma, mas o Crucificado transfigurado no poder de Deus. Depois de algumas instruções, Lucas narra a ascensão de Jesus (24,36-53) como forma de fazer uma ponte entre seu Evangelho e os Atos dos Apóstolos. Revela também que a partir de agora Cristo termina sua missão e começa a missão de todos nós, que pelo batismo, nos tornamos Igreja.
Pe. Paulo Roberto Gomes, MSC é teólogo e pároco da Comunidade Paroquial São Paulo, em Muriaé, MG
O testemunho é o coração da vida missionária. A Palavra de Deus sempre foi entendida com uma mensagem a ser anunciada.. Mas corremos o risco de não prestar atenção na vivência desta Palavra e ela ser confundida com tantas outras palavras no mundo em que vivemos. A Palavra de Deus é uma palavra encarnada, transmitida com o testemunho, mas que transforma a vida do mensageiro e dos que a ouvem. Ao anunciar a Palavra, o missionário é convidado ao seguimento do Mestre – Jesus-; e neste caminho da cruz não lhe é estranho; daí, a disposição de arriscar-se nas situações complicadas da vida. A fé nasce num processo de confiança com o Deus da vida.
Estar em caminho com Jesus, anunciando-o, não se pode reduzi-lo a um ensino ou a um conjunto de doutrinas dissociadas da vida da comunidade ou da vida pessoa porque o Evangelho é uma sabedoria com raiz na própria vida e para a vida. Jesus, muitas vezes, foi confundido com um sábio que ensina a viver, ao estilo das escolas rabínicas do seu tempo, aonde cada um recorria quando queria aprender um oficio ou alguma doutrina sobre Deus. Jesus, apesar de ser chamado de Rabi por muitos de seus seguidores, não forma uma escola ao estilo rabínico. Ao contrario, convida seus discípulos a segui-lo com uma proposta de vida: Ele é Caminho, Verdade e Vida. Ele é a Palavra-Vida e seus seguidores devem prestar atenção em como esta Palavra é vivida, escutá-la, prestar atenção a esta Palavra atuante no caminho e ao mesmo tempo Palavra pronunciada por Jesus. Ele é o Mestre que ensina os discípulos, utilizando todo tipo de recursos para que o ouvinte possa entender e tenha claro qual é a sua missão. Mas Jesus, em pessoa, é Palavra encarnada, a Palavra de Deus que se fez carne e habitou no meio de nós para que todos/as pudessem ver a luz por meio da Palavra. (cf.Jn 1,1.14 )
Palavra vivida e palavra pronunciada. Muitas vezes, nós escolhemos ou seguimos nossa vida pelo caminho da palavra falada, que está mais desligada das exigências do seguimento, da simples palavra sem compromisso. Uma missão, assim, se empobrece, sem a exigência do seguimento. O Seguimento é a Palavra vivida que deve estar no coração do peregrino missionário e na vida da missão. Esta experiência provoca transformação na vida interior, caminho de conversão e de discipulado. “O seguimento é fruto de uma fascinação que responde ao desejo de realização humana, ao desejo de vida plena. O discípulo é alguém apaixonado por Cristo, a quem reconhece como o mestre que o conduz e acompanha” ( DA 279)
A vocação cristã missionária, por outro lado, segue a linha da vocação comunitária e eclesial, que anuncia o Evangelho e o faz acontecer por meio dos testemunhos e das atividades diárias na vida dos outros.
Em nosso mundo invadido por palavras e informações, o Evangelho corre o perigo de ser uma palavra ou uma ideologia a mais que circula nos meios de comunicação. A “Palavra e Vida” é a síntese expressada na comunidade missionária, onde o Evangelho renova sua força a cada dia, na oração, no testemunho e na ação pastoral.
A vida de fé
Mas como construir uma vida de cristã numa sociedade individualista, onde cada pessoa busca seu próprio caminho? Estaríamos construindo uma igreja discípula de Jesus de Galileia, onde os discípulos renunciavam a tudo para segui-lo, tinham um objetivo, um estilo de vida a construir que atraíam a admiração dos demais?
O nosso discipulado responde ao chamado de seguimento, de escuta da Palavra, de vivência de fé numa vida de comunidade? A realidade, evidentemente, também ajuda a confundir a escuta da Palavra e o conseqüente seguimento a Jesus
Todos sentem essa confusão hoje em dia na vivência da fé, que cada vez mais se reduz a uma vivência subjetiva, distante da vida real; uma fé reduzida a uma experiência emocional, sem dar o passo decisivo para o compromisso com a caridade e com a comunidade. O Evangelho, contudo, chama o discípulo a caminhar, a seguir a Jesus no caminho, com uma vida comprometida; ao mesmo tempo, criativa ante a realidade. É importante reconhecer que hoje necessitamos de uma nova orientação, uma nova configuração, desde as suas raízes evangélicas, para que a fé não fique reduzida a expressões de palavras vazias. (cf. DA36)
Unir a palavra falada com a palavra vivida
A vocação missionária se alimenta com a Palavra-Vida e a entrega da própria vida. O seguimento de Jesus implica na entrega da vida a um caminho e renovação na medida em que se vai caminhando, na escuta da Palavra. Numa experiência missionária, que caminha junto com os irmãos, com os ouvidos abertos aos sinais dos tempos novos desta jornada, e com a alegre presença do Ressuscitado que é força de vida. O discipulado missionário é um lançar-se a uma aventura de um chamado que implica confiança nas mãos de quem chama e envia a uma missão. O responsável pela missão ou pelo caminho missionário é o próprio missionário do Pai, Jesus. Hoje há uma consciência cada vez maior de que é o Espírito de Jesus, o Espírito Santo quem nos conduz e nos lança ao mundo e a Igreja é a barca conduzida por Ele. Do discípulo-missionário exigem-se varias atitudes: escuta à Palavra escrita, atenção à Pessoa de Jesus, e aos sinais dos tempos, onde atua o Espírito Santo. A pessoa do discípulo/a deve estar vinculada ao testemunho de vida. A palavra vivida, encarnada na própria vida. (cf. EN 41)
Concluindo
Estamos no Ano da Fé. Hoje, em tempos de pós-modernidade, fizemos da fé uma experiência sem muita ligação com a vida comunitária; sem consequência para a vida, para o compromisso com o próximo. O Evangelho corre o perigo de ficar reduzido a uma filosofia intimista, onde se busca conforto para uso pessoal. Jesus mostra uma Boa Noticia (Evangelho) que leva à Alegria no amor, porque o Amor é alegria no serviço ao próximo. “A fé cresce quando se vive como experiência de um amor que se recebe e se comunica como experiência de graça e alegria… como afirma Santo Agostinho, ‘os crentes se fortalecem crendo’” ( Porta Fidei 7)
Pe. Antonio Carlos Meira, MSC é missionário no Equador.