Acreditar em Deus e no seu amor infinito,
experimentá-lo como quem o prova aos poucos
e, em retribuição, amá-lo com o maior amor
humano possível, às vezes, com a decisão de renunciar
até ao mais bonito amor humano..
Encontrar uma pessoa e amá-la com um amor gentil
e sem reservas, conseguir amá-la sem adorá-la e, mesmo assim,
saber que nela está quase tudo o que se buscou de bom neste mundo.
Santificar-se nesses amores e viver mais
para os outros do que para si mesmo.
Passar estes amores a quem cruzar os nossos caminhos:
eis o chamado da maioria dos humanos.
Feliz aquele que ama e se sente amado.
Feliz aquele que aceita não ser amado como gostaria,
mas assim mesmo ama.
Feliz de quem, mesmo não tendo o amor que sonhou
um dia encontrar, ama de maneira maiúscula e madura.
De tal ser humano pode-se dizer
que se tornou pessoa.
Pe. Zezinho
Milagres são assim, interpelam a uma postura de fé. Acredita-se ou não. Assume-o em nossa vida ou ficamos à mercê dos comentários dos menos entendidos que reprovam toda manifestação de fé, considerando-a alienação e imprudência diante do sagrado. Infelizmente há quem pense assim diante do inexplicável.
O milagre de Lanciano, muito conhecido nosso, mostra uma atitude de descrença de um monge, enquanto presidia à santa Missa. Diante de sua incredulidade, o pão se torna carne e o vinho se torna sangue de Jesus. Esta é a base central que causa furor entre os críticos de nossa Igreja, tentando de todas as maneiras, provar que acreditamos no vácuo, no vazio.
O que se sabe é que a ciência se cala ante tal fato, depois de uma
série de exames para comprovar que a carne e o sangue são verdadeiros. Não nos cabe teorizar sobre a questão achando que podemos dar alguma outra contribuição que a ciência e a religião já fizeram. Cabe-nos, portanto, viver a nossa fé no Santíssimo Sacramento, como prova fiel da presença de Jesus na eucaristia.
Memória, esta é a palavra. Jesus nos pede insistentemente, na sua última ceia, a que somos convidados, a fazer memória da sua participação em nossa vida, quando quisermos mais uma vez ter a participação da sua vida na nossa. Por isso, nos deixou o seu memorial: “Fazei isto em memória de mim”. É o que assumimos na santa missa.
Tomando como referência estas palavras de Jesus, é importante que o cristão católico faça memória de que o milagre de Lanciano acontece todas as vezes que comungamos. O que comungo hoje é o pão transformado no corpo de Cristo o qual me impulsiona a ser de Deus. Não precisamos ir longe para entender isso. Lanciano está presente onde a Eucaristia está. Ele é o convite pleno para que os crentes e os não crentes façam sua adesão ao projeto de Deus de salvar a humanidade.
Lanciano é um ato de fé. Nossa vida é um ato de fé. Nossas conquistas são um ato de fé. Lanciano é tão verdadeiro como o amor de Deus por nós, incondicionalmente.
Pe. Air José de Mendonça, MSC é pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Vila Formosa, São Paulo, SP.
Nestes dias de violência generalizada, crime organizado e batalhas campais, invoca-se a deusa Justiça para clamar pela adoção da pena de morte. No fundo, pulsa a mesma intenção: para acabar com o pecado, acaba-se com o pecador.
Todos conhecem o episódio bíblico em que o profeta Elias, movido por um impulso de ódio, usou da espada para “limpar” o antigo Israel da idolatria. Foram sumariamente “eliminados” 450 profetas de Baal, o ídolo da fertilidade cultuado pelos moabitas (cf. 1Rs 18,40).
É digno de espanto que o gesto de Elias tenha sido aplaudido ao longo dos séculos e admirado como um comportamento “religioso” na defesa dos interesses do verdadeiro Deus. O mesmo Deus que afirma peremptoriamente: “Não quero a morte do pecador, mas que se converta e viva”. (Ez 33,1.)
Como é fácil mascarar sentimentos mais ou menos inconfessáveis em ação religiosa! Intolerância, ódio, vingança, ultranacionalismo e ambições comerciais são alguns desses monstros que se disfarçam de culto a Deus. Invocamos o santo Nome de Deus para agredir o vizinho ameaçador, rapinar a nação rica em recursos naturais, anexar territórios ou, simplesmente, afastar os “diferentes”.
Atualmente, grupos muçulmanos adotam a tática da agressão sistemática contra minorias não islâmicas. Um Islã politizado usa (abusivamente) do Alcorão para impor a Sharia e tornar impossível a presença de outras religiões. A Turquia atual é o palco do conflito entre tais grupos e o exército nacional pró-Ocidente.
Em solo brasileiro, nestes dias de violência generalizada, crime organizado e batalhas campais, invoca-se a deusa Justiça para clamar pela adoção da pena de morte. No fundo, pulsa a mesma intenção: para acabar com o pecado, acaba-se com o pecador. Com este objetivo, apelaríamos para a forca, a cadeira elétrica, a injeção letal. Ouço os aplausos de Hitler, Stalin e Pol Pot…
Esta legião de justiceiros sente-se no direito de matar aquele que mata, sem levar em conta que condenar à morte um criminoso significa cristalizá-lo no seu crime, roubando-lhe um tempo futuro quando, ao menos em potencial, teria a oportunidade de reflexão, arrependimento, reparação e conversão. Exatamente aquela oportunidade que Deus oferece a todos nós, os pecadores.
Não é preciso lembrar que o direito de matar – e eliminar adversários e opositores – sempre foi invocado pelos tiranos de todos os quadrantes e de todas as revoluções. Já devíamos ter aprendido com a História. Já conhecemos o que ocorre no “paredón”, nos “gulags”, nos campos de concentração, na Base de Guantánamo. Já estamos informados sobre os projetos de “limpeza étnica” e de imposição do partido único. Em todos estes exemplos, a dignidade do homem foi negada e sufocada em nome de outros interesses.
Quem deseja a pena de morte parece pensar que o Bem e o Mal são polos de igual valor e poder. Não imagina que o Bem possa abraçar, englobar e fagocitar o Mal, como Luther King dando a vida pelos direitos de seu povo, como Gandhi imolado pela Paz, como Cristo que morre com esta oração nos lábios: “Pai, perdoai-os, porque não sabem o que fazem!” É assim que o Bem vence o Mal…
O cristão pensa diferente dos amantes da morte. Ele “sabe” que a dignidade do homem deriva de sua criação “à imagem e semelhança” do Criador (cf. Gn 1-2). O cristão sabe que o crime não despoja o criminoso de sua dignidade original. E se tratamos o criminoso como coisa, fera ou monstro, é a própria imagem de Deus (ainda que deformada!) que estamos deixando de respeitar.
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Era muito mais bonito aquele tempo em que ele punha as mãos nos ombros dela, ou publicamente andavam de mãos dadas. Alguém decretou e espalhou que o gesto está fora de moda. Que falem, mas ,se não inventaram coisa melhor, que se calem! O fato é que continua bonito ver a mão dele segurando a dela, sem nenhuma outra razão além do carinho entre dois seres humanos.
Casais idosos ainda fazem isso e há casais jovens que não abrem mão desse privilégio. O gesto não tem nada de antiquado. Diz muito ao coração dela e faz bem ao homem que ele é. Mostra publicamente que há um laço a prender suavemente os dois. As mãos falam e ajudam a dizer coisas boas e más. Por elas também passam o cuidado, o carinho e a ternura. Aquelas mãos dadas são mãos de pai e mãe, ou de quem será. São mãos que cuidaram, cuidam ou cuidarão de vidas tenras e carentes.
Mãos levantam queixos, afagam cabelos, tocam olhos e testas, seguram mãozinhas inocentes, curam feridas, fazem comida, lavam corpos e roupas, constroem brinquedos, afagam bochechas, alisam cabelos brancos, plantam, colhem e beneficiam, assinam decretos, ajudam os pobres e tornam o matrimônio uma fonte de vida. Protagonizam na terra o prolongamento do raham, o colo de Deus. Nada mais justo, então, que homem e mulher caminhem de mãos dadas, porque é bom, é terno, simboliza um vínculo, e é testemunho de Alguém que está amando alguém.
Em algum ponto da caminhada muitos casais perderam este delicado e belíssimo costume. Numa era de tanta violência, fora e dentro do lar, de tanta indelicadeza, ingratidão, ameaças e perda de valores, há costumes que devem ser preservados e incentivados. Um deles é a ternura do casal de mãos dadas. Não faz sentido que duas pessoas que se amam, caminhem sistematicamente separados, como se estranhos fossem. Era bonito, simbolizava cuidado e laços de família e todos podiam ver. Que volte a simbolizar a unidade. Prefiro ver isso do que homens indelicados e mulheres magoadas e de rosto sombrio e enxabido, ao lado do homem que um dia foi a razão dos seus sorrisos.
Pequenos gestos podem fazer a diferença. Parecem bobos e fora de moda, mas não são mais tolos e fora de moda do que um casal se espicaçando na frente dos outros e agindo como se o outro não significasse mais nada em sua vida. Pode até haver mentira naquelas mãos dadas, mas se até inimigos se dão as mãos e assinam tratados , por que não um casal que tem e teve uma história?
Que se reze o Pai Nosso de mãos dadas. Que se comece pelos casais!
Pe. Zezinho, SCJ, é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais. www.padrezezinhoscj.com