Eis aqui mais uma edição de nossa revista, recheada de temas com os quais vocês já se acostumaram, porque levam a marca, o DNA inscrito em nosso carisma, a espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus, cuja festa celebramos solenemente no mês passado. E quando falamos sobre o Filho, estamos falando também de Maria, em suas relações profundas e íntimas com o Coração de Deus., Maria, Mãe da misericórdia.
Mas, caros leitores, folheando essas páginas, fiquei lamentando as lacunas que deixaram os saudosos confrades Antônio Carlos Meira e José Roberto Bertasi, eles que ilustraram durante tantos anos essa revista, escrevendo, respectivamente, sobre as missões no Equador e sobre Maria, Nossa Senhora do Sagrado Coração. Antônio Carlos, alma de missionário, coração ardente como o de Paulo, que se fez grego com os gregos e … equatoriano com os equatorianos. Despertou-me a memória porque neste mês, dia 2 de julho, o Padre Bertasi estaria completando seus 65 anos. . . Outros também escrevem bem e bonito sobre Maria, mas ler o caro confrade era vê-lo no presbitério, microfone em punho, gestos largos e eloquentes.
Que eles, hoje na glória, peçam por nós a Deus o entusiasmo e a coragem para perseverarmos nesse delicado ministério de difundir o evangelho com os matizes de nossa espiritualidade.
A REDAÇÃO.
João 6, faz uma catequese a respeito da Eucaristia como realidade central na vida cristã. Infelizmente, estamos acostumados a reduzir a Eucaristia somente ao momento da comunhão ou à missa. Isto é perder o rumo que o Evangelho indica. João 6 retrata com realismo como costumamos buscar a felicidade, Deus, com generosidade e grandeza e, muitas vezes, com mesquinhez. Em seguida, apresenta Jesus que alimenta os seus discípulos com tudo o que Ele é e faz. Disso, decorre a Eucaristia em seu contexto correto, integrada com a Cruz, com a Palavra, com o empenho em viver o projeto do Pai, celebrada como um sinal (sacramento) das opções de Jesus na vida comunitária.
Na narrativa da cura do cego, percebemos como o conflito se acirra com aqueles que preferem permanecer na cegueira e não aceitar Cristo como luz. Isto desembocará no discurso sobre os verdadeiros líderes do povo.
O capítulo 10 do quarto evangelho chama a atenção para o bom pastor. Estamos acostumados a pensar no “pastor” – nas lideranças do povo – como pessoas ligadas ao mundo da religião. No entanto, nesta época qualquer autoridade política ou religiosa era chamada de pastor. Naquele tempo, abusava-se muito da palavra Deus. Os pagãos tinham uma pluralidade de deuses para expressar o quanto a divindade é rica e complexa. Autoridades políticas e religiosas, usando o nome de Deus, mantinham o povo na ignorância, alienação, na exploração e na injustiça. Jesus apresenta o Bom Pastor como aquele que deseja conduzir o povo para a fartura, dignidade e alegria. Por isso, a porta está sempre aberta. Trata-se de uma vida digna neste mundo e na plenitude ou vida eterna.
A narrativa da ressurreição de Lázaro aponta para a ressurreição do próprio Cristo, autor da vida eterna (Jo 11). A cena é descrita da seguinte forma: 1. Na pessoa de Lázaro, nome cujo significado é “Deus ajuda”, há uma ligação entre três temas: vida, morte e crer. Jesus parece decepcionar, pois não se encontra presente na morte do amigo. 2. Aparece a figura de Maria, irmã de Lázaro, mulher que professa a fé na ressurreição. 3. Diante da morte do amigo, Jesus fica comovido. 4. Nem a pedra, nem o fato de estar morto há quatro dias são obstáculos para Deus.
5. Jesus chama Lázaro para fora da “mansão dos mortos”, pede para “desatá-lo” e “deixá-lo ir” para Deus. 6. Muitos creram. Maria, expressando sua fé na ressurreição dos mortos, descobre que Cristo é a própria ressurreição.
Esta narrativa está estreitamente ligada à unção em Betânia, realizada por Maria, irmã de Lázaro (Jo 12,1-11). O processo de crer pressupõe carinho e cuidado com o Mestre. A paixão de Jesus se aproxima e Maria, sem saber, antecipa o sepultamento.
O domingo de Ramos (Jo 12, 12-36) é retratado como uma manifestação nacionalista do povo acolhendo Jesus em Jerusalém, debaixo das barbas dos romanos. Saíram ao encontro de Jesus agitando “os ramos de palmeiras”. Estes ramos eram símbolo da revolta dos macabeus contra a dominação grega, tanto em 164 aC (Cf. 2Mc 10,7) como em 142 aC, no final da revolta (Cf. 1Mc 13,51). Na segunda revolta judaica, em 131-135 dC, foram cunhadas moedas com palmeiras desenhadas, simbolizando a independência do povo. A própria saudação “Hosana” era feita em manifestações cívico-políticas. João acrescenta ao Salmo 118,25-26 a frase “o rei de Israel”. Portanto, a acolhida de Jesus em Jerusalém, celebrada por nós no domingo de Ramos, expressa o desejo do povo por libertação do jugo opressor.
O Livro dos Sinais termina (12, 37-50) com duas reflexões: 1. Por que tantos se recusam e se opõem à mensagem de Jesus? A resposta não fala das causas, mas mostra que no passado também aconteceu o mesmo com a palavra dos profetas. 2. Há uma reflexão sobre a manifestação da fé ao falar do Pai e da Palavra anunciada ao mundo (v. 44-50).
Pe. Paulo Roberto Gomes, MSC é teólogo e pároco da Comunidade Paroquial São Paulo, em Muriaé. MG
O projeto de iluminação de uma Igreja é o complemento do projeto arquitetônico. Além se ser um projeto técnico, pode valorizar elementos, espaços e obras de arte, pode revelar algo que se quer impor na obra. O projeto pode destacar, através da luz, as partes diferentes da liturgia e dirigir a atenção da assembleia para os diferentes momentos da celebração.
Porém, deve-se ter cuidado para não fazer da iluminação um espetáculo luminotécnico, que não é aqui o caso. Igreja não é sala de espetáculo. Para cada igreja teremos um projeto diferente de iluminação. Depende da arquitetura, do contexto em que está inserida, a forma de ser e celebrar da comunidade. A localização e aparência das luminárias devem combinar com a arquitetura do prédio e devem ser muito discretas. Luminárias não são para chamar atenção, não são obras de arte, não são peças litúrgicas.
Podem-se destacar alguns ambientes e peças dentro das igrejas com cuidado para não desviar a atenção do principal durante uma celebração. Destaque para o altar e o ambão, para o santo padroeiro e para a pia batismal são bem-vindos.
A igreja tem diferentes espaços com diferentes usos, cada um deles deve ter iluminação diferente e adequada. O átrio é o lugar onde ficam os folhetos e os quadros de avisos, é o que dá entrada à igreja, a iluminação pode ser mais aconchegante, com menos intensidade de luz, e luz direcionada para a leitura dos quadros de avisos.
A nave é o lugar da assembleia, onde ficam os bancos e os corredores. É nesse espaço que os fiéis rezam, cantam, escutam as leituras e leem, o que justifica uma iluminação geral e uniforme. A escolha de uma luz difusa é uma boa escolha e dá mais conforto para a leitura. A iluminação da nave deverá ter níveis suficientes para a realização da tarefa de leitura e percepção do ambiente; por outro lado, em determinados momentos deverá proporcionar um ambiente de maior recolhimento.
O presbitério é o espaço onde fica o presbítero e, na maioria das vezes, apesar de não obrigatoriamente, a cadeira da presidência, o altar e o ambão. Pode ser também o lugar da cruz processional, a estante do comentarista e as cadeiras para os ministros e acólitos. A iluminação principal deve estar dirigida a quem preside à assembleia, tanto na cadeira, no altar como no ambão. Não deve ter muita iluminação pontual no presbitério para não desviar a atenção dos fiéis. No presbitério a iluminação deve destacar a ação simbólica principal de cada momento.
Escolher uma iluminação certa não é uma simples tarefa. Deve-se proporcionar um olhar guiado pela luz. É necessário valorizar o ambiente nas suas formas arquitetônicas, ser funcional e criar um ambiente mistagógico. E, acima de tudo, buscar o essencial sem enfeites, sem exageros, sem luxo.
Diácono Michel dos Santos, MSC, é Vigário Paroquial de N. Sra da Soledade em Delfim Moreira-MG