“O Verbo, saído do Coração de seu Pai, faz surgir o mundo do nada; e do Coração do
Verbo encarnado, traspassado no Calvário, vejo nascer um mundo novo…”
(Padre Júlio Chevalier, 1900).
Muitas são as imagens que podemos ter de Jesus. Os Evangelhos nos dão várias possibilidades de aproximação com essas faces diferenciadas do Salvador. A Igreja também, ao longo de sua enorme experiência mística, vai revelando para o mundo essas imagens que não só nos mostram quem é Jesus, mas abrem largos caminhos para que nos aproximemos Dele.
A Espiritualidade do Sagrado Coração nos indica mais uma dessas portas com acesso a abundantes e ricas experiências místicas. Desde o início, com Santa Margarida Maria, já se esboçava uma vivência muito próxima daquilo que pode ser a essência da experiência de Deus, ou seja o amor. Certamente essa é uma das razões pelas quais essa espiritualidade se fez tão popular. Todos se sentem aconchegados diante de um Deus cujo Coração de abre em amor por nós.
Mas não é só isso. Olhando para a espiritualidade do Sagrado Coração, descobrimos muitas outras perspectivas, próprias do amor Divino expresso no coração do seu filho. Olhando o Culto Perpétuo ao Sagrado Coração, devocionário tradicional da Espiritualidade MSC, vemos o Sagrado Coração sendo chamado de “Nossa Paz e reconciliação”, uma das invocações mais bonitas que podemos encontrar.
Paz e reconciliação são necessidades constantes do ser humano. As duas juntas nos dão condições para levar adiante a construção de um mundo melhor. E nada mais justo que entender o Coração de Jesus como lugar de encontro com uma paz duradoura e com a reconciliação pessoal e comunitária. Sentir-se reconciliado consigo mesmo e com os outros é o primeiro passo para aprender a amar e assim construir uma paz que vem de Deus e não de interesses mesquinhos. Nesses tempos onde a dimensão da reconciliação tem sido esquecida e com isso gerado tanta violência e dor, olhar para um Deus que se apresenta como fonte de reconciliação, é um conforto e uma esperança que nos alimenta na caminhada.
Celebrar o Coração de Cristo, portanto, não é somente uma prática devocional que muitos podem achar ultrapassada, mas é reconhecer que o amor nunca fica ultrapassado diante das maravilhas que ele pode realizar, principalmente se este amor em questão é o próprio Deus, entregando-se a nós cotidianamente. O Coração aberto de Jesus não só nos inspira, mas impulsiona a ser construtores da Paz onde quer que estejamos. E para que essa paz seja verdadeira tenhamos como alicerce a reconciliação. Um mundo pacífico e reconciliado é fonte inesgotável do encontro do Divino e do humano explicitado de forma perfeita em Jesus Cristo.
No mês de junho, celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Não dá para desvincular o coração da pessoa de Jesus. São realidades únicas. Por trás do símbolo está toda a pessoa de Jesus.
A espiritualidade do coração é sempre atual. Trata-se de uma experiência universal na Igreja. A humanidade se identifica com o homem sofredor e desfigurado que pende do alto da cruz.
No Antigo Testamento a palavra “coração” é entendida como princípio básico da vida humana. O coração é a fonte do agir humano. Sempre está ligado aos sentimentos da pessoa. É o lugar do amor, mas também da vida moral e religiosa do ser humano.
Deus se revela no Antigo Testamento como alguém que tem um coração. O Deus-bíblico quer que o ser humano tenha um coração de carne e não de pedra: “Darei para vocês um coração novo, e colocarei um espírito novo dentro de vocês. Tirarei de vocês o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne. Colocarei dentro de vocês o meu espírito, para fazer com que vivam de acordo com meus estatutos e observem as minhas normas” (Ez 36,26-27).
No Novo Testamento encontramos outras características. O coração indica a intimidade da pessoa. Indica também os pensamentos mais profundos. Revela o “homem interior”. Em outras palavras, o coração revela a transparência da pessoa: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8). A escolha fundamental da vida e a própria opção de seguir, passa pelo coração: “Pois onde está o teu tesouro, ai estará também o teu coração” (Mt 6,21).
Mas também, é do interior do coração que nasce toda maldade humana, todo o pecado e todas as intenções malignas: “Pois é do Coração que provêm as más intenções, crimes, adultérios, imoralidades, roubos, falsos testemunhos e calúnias” (Mt 15,19).
O Coração do mestre Jesus se torna escola de aprendizagem. Aqui estamos no ponto mais alto de toda a espiritualidade do coração e no auge de toda a doutrina bíblica: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, pois o meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mt 11,28-30).
Em suma, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, o coração é o lugar, por excelência, da morada de Deus. É o lugar da fé. É o lugar da conversão. É a partir do coração que o ser humano estabelece sua aliança de amor com o Deus da vida. Em outras palavras, é a partir do coração que o ser humano estabelece o seu convívio com Deus: “Amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças e ao próximo como a si mesmo”; eis o resumo de toda a espiritualidade do coração (Lc 10,27).
Viver a espiritualidade do coração de Jesus é contemplar o coração traspassado pela lança. É descobrir de novo o amor de Deus que se encarnou e renova o mundo (Jo 19,34).
A Igreja nasce do coração aberto de Cristo. Só liberta o coração do ser humano, quem se identifica com o coração perfurado da cruz, jorrando sangue e água para toda a humanidade. Eis ai os símbolos da eucaristia e do batismo, sacramentos para a vida do mundo.
Portanto, o coração de Jesus é a síntese e a resposta para toda a espiritualidade cristã, para cada pessoa sofredora, para o novo povo de Deus, para cada comunidade que procura viver este Ano Santo da Misericórdia, proposto pelo Papa Francisco.
Neste ano, declarado pelo Papa Francisco como “o ano da misericórdia”, a PÁSCOA foi celebrada na última semana de março. A maior festa do cristianismo pode ser chamada a festa da misericórdia do Pai, porque o Filho veio a nós por este motivo: “Deus amou tanto o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que o mundo fosse salvo por ele”, disse Jesus a Nicodemos. (Jo 3,16)
Na trajetória de Jesus rumo a Jerusalém, Maria caminhou com ele até o Calvário. Fiel seguidora de Jesus, o acompanhou, tanto no sofrimento como na alegria. Sua união com Jesus a fez enfrentar desafios, superar a dor e assumir com o Filho a missão que o Pai lhe confiou. Diante de tão grande exemplo de fidelidade, o que podemos fazer senão imitar nossa Mãe? Para isso, procuremos viver em união com ela.
Dando sequencia à “Semana com Nossa Senhora do Sagrado Coração”, nossa prece, na segunda-feira, inicia-se com um pedido: Mãe, em união contigo, quero adorar, de modo particular, o Espírito Santo – Amor do Pai e do Filho.” O Espírito é a chama do amor, o princípio, a fonte, o dispensador de todos os benefícios que Deus nos concede. É também a paz, o repouso, a doçura, a alegria, a felicidade, porque são frutos do amor”. Com Maria, adorar o Espírito Santo é adorar a Trindade. Essa atitude nos levará a espalhar o amor ao nosso redor, a sair de nós mesmos e nos dispor a fazer algo pelos que mais precisam, mesmo que seja através de uma ação pequenina. O dimensão de nosso apostolado é a grandeza do amor com que o realizamos. “A caridade de Deus difundiu-se em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
Viver em união com Maria é ser sustentados(as) pela mesma força espiritual com que ela foi fortalecida quando o próprio Espírito Santo formou em seu ventre puríssimo o Coração e o Corpo de Jesus. Pelo nosso Batismo, o DOM de Deus em MARIA é também nosso DOM pelo prodígio estupendo do amor misericordioso de Deus.
Estimados(as) leitores(as), a consciência da presença de Maria em nossa vida, nos tornará mais humanos e mais seguros da grande força que é o amor. Nós também seremos fortes na fé e nos manteremos de pé e, a exemplo de Nossa Senhora do Sagrado Coração, viveremos na fidelidade a Jesus a fim de sermos instrumentos do amor de Deus em toda parte.