Revista de Nossa Senhora
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Você acessou a Edição Maio – 2011

Pra Começo de Conversa

CAROS LEITORES,

Neste mês de maio, mês de Maria, claro que a Mãe de Deus tem espaço especial em nossa revista. Aliás, sempre teve. Padre Bovnmars continua escrevendo sobre a Renovação da Teologia Mariana do pós-Concílio. Ele cita ainda uma vez o Padre Cuskelly, de saudosa memória, o homem que, no ministério de Superior Geral da Congregação, redescobriu a espiritualidade do Sagrado Coração.

Há quem o chame de o São Boaventura dos MSC, o segundo fundador de nossa família religiosa. Cuskelly faz nova apresentação de Nossa Senhora do S. Coração. Para ele, o Coração de Jesus é o centro, mas desde o início havia uma relação muito profunda com Maria. A começar pela famosa novena dos primórdios da fundação, costumamos dizer que “Ela é aquela que tudo faz em nossa Congregação”.

O teologante Michel também escreve sobre o nosso santuário nacional, a Casa de Maria, em Vila Formosa, São Paulo, onde, no final do mês será celebrada mais uma soleníssima festa em louvor a Nossa Senhora do Sagrado Coração. Padre Zezinho, por sua vez, discorre sobre Maria, fornecendo pistas para o discernimento sobre a autenticidade de certas visões ou aparições.Tudo isto, sem falar da página dos fieis devotos que agradecem Maria por todas as graças recebidas.

Nossa sessão de espiritualidade agora é assinada por Dom Agenor Girardi, hoje Bispo Auxiliar de Porto Alegre, responsável pelo Vicariato de Canoas. A cerimônia de sua ordenação, no Centro de Eventos de Francisco Beltrão, com a participação de cerca

de seis mil fieis, rezando pelo novo pastor, foi uma festa muito bonita. O importante é que ele continuará frequentando as páginas de nossa revista, com seus artigos sempre tão apreciados.

Vocês, leitores, terão ainda a companhia do Antônio Carlos de Meira, contando as suas peripécias no litoral do Equador, bem como o Reuberson, missionário em São Gabriel da Cachoeira, AM, anunciando a boa nova do evangelho às populações ribeirinhas daqueles rincões do norte. Padre Paulo Roberto continua com suas reflexões sobre o Credo do Povo de Deus, há ainda a sessão de Liturgia e outros assuntos mais.

Tenham uma proveitosa leitura e, nesse tempo pós-pascal, na companhia de Maria, a Virgem da Ressurreição, e continuem buscando as coisas do alto.

A DIREÇÃO.

Imaginemos Maria

Texto: Pe. Zezinho, SCJ

Falo a você que crê que Jesus salva e que ele já levou bilhões de pessoas para o céu. Levou também Maria, sua santa mãe. Se alguma religião ensinasse que ele ainda não conseguiu levar nem a própria mãe, tal religião estaria negando, ou o poder intercessor de Jesus e o valor da sua vitória sobre a morte, ou a santidade e a pureza de Maria.

Nem eu nem você sabemos como era Maria. Então temos que imaginar como era em Nazaré e como é hoje no céu. E é bem aí que precisamos tomar cuidado com a nossa imaginação. Não podemos colocar Maria nem acima, nem abaixo do lugar dela no Reino de Deus. Não podemos imaginá-la nem além, nem aquém do que a nossa Igreja ensina. Não podemos inventar recados que ela não deu, palavras que ela não disse nem diria, aparições que não aconteceram. Videntes erram e, não poucas vezes, também os sacerdotes que os aconselham. Alguém pode amar muito a Jesus e á sua mãe e, levado pelo entusiasmo, criar visões que não aconteceram. Muita gente já fez isso, para depois admitir que estava iludida. Não era a mãe de Jesus. A Igreja percebeu que era engano desse ou dessa fiel.

Por isso , se você garante que a vê e que ela lhe fala e, se a ama de verdade, não dê nenhum recado que acha que ouviu dela, sem primeiro consultar mais de um sacerdote. De preferência ouça um do seu grupo e outro de fora. O fato é tão sério que convém ouvir ainda um terceiro, indicado pelo bispo da diocese. Que os três tenham uma boa bagagem teológica e uma boa experiência pastoral. Não devem ser muito jovens. Se, de quebra, puder conversar com um psicólogo católico, faça isso.

Por que dou este conselho?. Porque tenho lido, visto e ouvido muita gente dar recados em nome de Maria, sem o conhecimento dos sacerdotes e dos bispos. A grande maioria sabe pouco de bíblia, de catecismo e de História da Igreja. Talvez por isso ande repetindo o que a Igreja já condenou e questionou no passado.

Nós, católicos, temos dezenas de escritos oficiais sobre Maria e o seu papel na nossa Igreja e no cristianismo. Mas temos também, circulando entre o povo milhares de folhetos e panfletos de irmãos e irmãs que dizem que Maria mandou publicar aquilo. Se não estão brincando de videntes e parecem assim tão certos de estarem ouvindo Maria, então que se deixem analisar por gente tão ou mais séria do que eles, que também não está brincando de ser bispo, teólogo ou pároco!  Imaginemos Maria , sim, mas aceitando os limites propostos pela nossa Igreja e pelo Santo Livro.  Você tem ouvido ultimamente algumas pregações sobre Maria? Alguns a diminuem e outros a superexaltam. E tudo o que ela quer é o respeito que certamente ela merece. Que tal lermos o que a Igreja disse sobre ela desde l950? Pelo menos é um discurso mais atual!  Entre as palavras de um piedoso livro do século XVI e  as do Vaticano II, mais as  dos papas do século XX, qual delas você divulgaria?  Ou aquilo tudo foi pensado e escrito para depois agirmos como se nada tivesse sido dito sobre Maria nos últimos 50 anos?

Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 80 livros publicados e mais de115 álbuns musicais.

“Respondamos em Comunhão onde a vida clama”

INTRODUÇÃO

Desta vez, estou tentando fazer um retrato da realidade deste bairro onde estamos nos estabelecendo como Missionários do S. Coração. Desde que chegamos aqui, a fama de violência é a marca que o faz conhecido por todos. Trata-se de um comentário de quem vive fora; pra quem vive aqui dentro, toca viver a realidade cruamente.

Texto: Pe. Antonio Carlos Meira, mSC

 

É Possível viver  a missão num bairro marcado pela violência?
Ontem a noite estive na casa de uma animadora para um pequeno jantar de um batizado. Ainda não passava das dez da noite, quando pensei que devia voltar porque a insegurança tem aumentado, ultimamente. Nesta semana, uma pessoa foi morta numa vingança e outra foi baleada, não se sabe o motivo.

Outro dia, conversava com os policiais que trabalham na área, e me indicavam os perigos que encontram. A população tem medo de colaborar com as autoridades policiais, temendo represálias: nestes lugares a vida vale muito pouco.

Num inicio de noite, saí de casa para dar uma volta pela rua e observar a realidade e vi muito pouca gente andando. Apesar do calor, todo mundo está com as portas fechadas, desde à tardinha, parecendo que não vive ninguém no bairro, nesta hora. Até os sons das caixas de musica nas casas silenciam.

A insegurança é um pesadelo na vida da população porque ninguém está livre de ser morto por quase nada ou perder um familiar de uma hora para outra. O pior desta situação, é que um assalto por um drogado é imprevisível. Ninguém sabe a hora que o ladrão vai chegar. Isso não são histórias contadas, conhecemos muitos que ficaram paraplégicos para sempre com os golpes num assalto.

Como pequena comunidade MSC, buscamos iniciar e afirmar nossa presença aqui. Já iniciamos a construção da casa paroquial no centro do bairro, ao lado do templo central. Alguns dizem que estamos indo para a boca do leão.

A missão na periferia do mundo
Realmente, a violência é um sinal de nosso tempo. Um sinal da realidade atual, revelando a extrema pobreza, a exclusão. É necessário enfrentá-la com muita paciência e testemunho de vida. É uma situação extrema, onde a própria vida está ameaçada. Um contexto muito difícil e perigoso. Sentimo-nos impotentes querendo ser luz no meio das trevas da morte.

São situações de fronteira, onde necessitamos aprender realidades em que a vida clama, muitas vezes silenciosamente: fronteira do centro com a periferia, a fronteira cultural da pobreza com o consumo desordenado, a fronteira de gerações entre velho e o novo e outras.

A vocação missionária
Como missionários, estamos num oceano desconhecido de realidades que misturam vários paradigmas e no dia a dia encontramos luz e sombras, onde se dão os esforços para nos manter no caminho do evangelho.

A nossa pobreza é parte da bagagem missionária, pois fazemos do coração o lugar de muitas formas de riqueza: da experiência vivida, os fracassos, os encontros e os desencontros. As mesmas opções nos permitem sonhar alto para nos manter no discipulado onde tudo vai se construindo aos poucos. Alimenta-nos a fidelidade ao projeto de Jesus, o encontro com o pobre, as histórias partilhadas, o grito de dor no meio da violência, da morte precoce; aqui fazem sentido a esperança, a caridade e a fé.

Há lugares de missão onde o esforço tem que ser dobrado algumas vezes, dependendo-nos de muitas coisas ao mesmo tempo: a sobrevivência, a organização, a formação de lideres, sair ao encontro de pessoas, vocação para o compromisso com a comunidade.

A missão cristã neste momento de mudança de época nos convoca a acompanhar os pequenos que peregrinam em busca de vida, mesmo quando as condições reais não são nada favoráveis;

“Apaixonados por Jesus cristo, respondamos em comunhão, onde a vida clama”, afirma a CLAR, no seu plano de trabalho.

Estar diretamente no contexto onde a vida clama, não é uma situação muito romântica: há o desânimo, as obscuridades sempre nos deixam na duvida de que rumo seguir. Atravessar este caminho ou este deserto implica uma forte espiritualidade encarnada, uma confiança que vai além das soluções imediatas, é estar em sintonia com o projeto do evangelho, assumir a confiança de que o Mestre não nos abandona.

Tudo isso é uma experiência que nos alenta na caminhada, a força que vem de Deus. Como missionários do Sagrado Coração, estamos conscientes das dificuldades da missão, segundo o fundador; Julio Chevalier:

“O Coração do divino Mestre é o centro para onde tudo converge… o sol da Igreja, a alma das nossas almas, manancial dos nossos ministérios…., o remédio de todos os nossos males…”. (Julio Chevalier). São palavras bonitas que ganham um profundo sentido quando nos toca meditá-las desde nossa missão.

Pe. Antonio Carlos Meira, mSC é missionário no Equador.