Revista de Nossa Senhora
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Outubro, mês missionário

Alguns anos atrás, quando se pensava em missão, identificava-se a figura de alguém que saía do seu espaço e ia à outras terras para pregar o evangelho ou simplesmente ser presença de Deus.

Hoje, quando se fala de missão, há a preocupação de abarcar na reflexão todos os tipos de nomenclaturas, idéias, objetivos e também a questão da mobilidade humana.

Apesar das inovações nas reflexões – ainda bem que elas existem, – missão nunca vai deixar de ser, em última análise, o encontro com o outro.

Em terras estrangeiras, locais, em lugares longínquos ou bem próximos. Missão vai levar em conta o quanto o outro é importante, e o quanto a distância precisa ser superada para que o anúncio do evangelho aconteça de forma perene e constante.

Neste mês de outubro lembramos a oração do Santo Rosário. Uma devoção antiquíssima que nos coloca em sintonia com o próprio Deus contemplando a sua manifestação em nosso meio.

A Revista de Nossa Senhora quer estar em sintonia com toda a Igreja do Brasil que reflete, desde o ano de 2008, sobre a Missão Continental, quando publica, neste mês, um artigo sobre “Missão Inter Gentes”.

Acompanhe e boa leitura!

A Redação

A primeira a dizer SIM.

Guardar no coração é ação longa, cotidiana que caracteriza a pessoa que vive profundamente a sua interioridade. Esta oração silenciosa é a contemplação.

Texto: Ir. Maria Ivone Weissheimer – FDNSC

Maria foi a primeira a dizer Sim a Jesus. O seu Sim abre a porta para infinitos “sins” a seu Filho: O sim do discípulo amado, de José, de Paulo, de Pedro, de Francisco de Assis, de Inácio de Loyola, do Padre Julio Chevalier, de Tereza de Calcutá, de Oscar Romero, o meu, o seu….. Este sim se renova por todas as gerações, percorre séculos, povos, culturas, idades….. Todo o amor que sentimos por Jesus, nasceu no dia da anunciação, o dia do grande SIM que penetrou até o âmago da criação, do universo e se estenderá até a parusia onde todos, em unísono, diremos “sim” ao nosso Deus e Senhor! Então mergulharemos nesta fonte infinita de amor, de beleza, de paz!

Com o “SIM”, Maria fica à disposição total de seu Filho. Ela se torna a primeira cristã, a primeira pessoa consagrada ao Filho. Como não admirá-la e imitá-la? Como não pedir que nos ajude para que sejamos atraídos pelo Senhor? O convite de Gabriel à alegria e ao amor de Deus penetra o coração de Maria. Ela sente-se amada por Deus e seu coração transborda de amor, é a expressão de um dom total, é a resposta de amor ao amor. Em Maria a aliança cantada pelos profetas atinge o ponto mais alto. O seu coração é o berço que acolhe Jesus e adere com amor e entusiasmo ao plano da salvação. Então algo de absolutamente novo acontece. Nela começa a se formar o Filho da promessa que é ao mesmo tempo Filho do Pai e filho de Maria, homem e Deus. “A humanidade viu neste menino, sob a ação do Espirito, uma mutação única que se vai expandindo em todos aqueles que o acolhem”, diz o teólogo Giovanni M. Bigotto. A presença de Jesus no ventre de Maria, faz estremecer de alegria o pequeno João Batista, e Isabel dá a Maria o maior título que se possa atribuir a alguém, porque confere ao menino o maior título que lhe pertence: Senhor! “Maria é a mãe do meu Senhor”. Com esse título ela confirma a divindade de Jesus. Maria, portanto, é a primeira pessoa que vive uma fé cristã, cuja razão e meta é Jesus. Ela vive a maior das bem-aventuranças que é a fé. Vemos isso no Magnificat, cântico que permeia toda a Sagrada Escritura e demonstra que a palavra de Deus se torna a sua palavra e a sua palavra nasce da palavra de Deus porque os seus pensamentos estão em sintonia com os de Deus e sua vontade consiste em querer com Deus. Deus e seu Filho constituem o seu centro. No Magnificat também Maria mostra que Deus é um salvador pessoal ”meu salvador”. É o Deus que faz maravilhas! Ela olha para o que está para lhe acontecer. É extraordinário! É a maravilha das maravilhas que Deus fez para o seu povo. É um Deus Santo que acolhe os pequeninos, que está presente, é ativo e preocupa-se com os seus, é um Deus fiel, Ele cumpre a promessa que fez a Abraão, realizada agora no menino, seu Filho. Para ela, Deus é um Deus de amor. Toda a história da humanidade está envolta por seu amor. É um Deus perfeito no seu agir. Nesse canto Maria deixa emergir sua própria identidade espiritual, seu encantamento, sua gratidão, sua alegria. O menino que se forma nela é a maior fonte e causa da sua alegria. Ela está estabelecida na alegria. O coração de Maria está modelado pelo Espírito Santo, pautado pelo coração do Filho, dom do amor sem limites de Deus. A mãe emerge na totalidade da pessoa do Filho, e este também penetra na totalidade da pessoa da mãe, por isso a gratidão irrompe de seu coração de maneira espontânea, abundante e jubilosa. Lutero em seu comentário sobre o Magnificat, disse: “Este cântico da bem-aventurada e doce Mãe de Deus deveria ser aprendido e decorado por todos”.

Lucas nos diz que Maria guardava todas as coisas, meditando-as em seu coração (Lc.2,19). Ela guarda e medita no seu coração tudo o que acontece ao seu Filho. Guardar no coração é ação longa, cotidiana que caracteriza a pessoa que vive profundamente a sua interioridade. Esta oração silenciosa é a contemplação. A anunciação constitui um estado místico de profunda intimidade com Deus. No Natal ela olhou pela primeira vez o rosto de seu Filho e sua oração foi de júbilo, de êxtase, de emoção, de encantamento!

Enquanto Maria envolve Jesus com seu amor, Deus nos envolve com sua luz. Caná foi um momento de oração e fé porque ela diz a seu Filho: “Eles não têm mais vinho”. É uma oração concreta. Jesus irrompe como personagem central. É a iniciativa de Maria que O coloca no centro. Ela apenas disse; “Eles não tem mais vinho. E aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Eis a chave para sermos escutados. Ela entrega a Jesus o nosso problema. Maria rezou sobretudo ao pé da Cruz, uma oração de presença, de silêncio, de fé, de amargura profunda. É uma oração de amor, que não diz nada, em total adesão ao Filho para que o Verbo encha o silêncio com sua Palavra: “Mulher, eis o teu filho”; “Eis a tua Mãe”. Jesus morre, ao passo que a Igreja, Mãe e Filho, nascem. Maria é o testamento de Jesus e com ela, nasce a Igreja de seu Filho. Ela permanece em oração no cenáculo, na comunidade do primeiro grupo dos discípulos, em Pentecostes. Ela reza na Igreja e pede o Espírito para que pentecostes continue no mundo, na comunidade, no coração de todas as gerações, no âmago de cada um de nós. Não é à toa que João confere a Maria lugares chaves: Caná, onde Jesus oficializa sua vida pública e na cruz onde Jesus a encerra. Ele a quer como personagem por excelência para ser testemunha e modelo.

Enfim, Maria, pela sua maternidade está ligada a Jesus de maneira única, ela é templo de Deus, posse absoluta de Deus e posse de Jesus desde a sua existência. Também seremos “santos e imaculados”, quando, como Maria, houvermos escolhido por inteiro o Senhor. Maria é profecia e antecipação do nosso próprio destino, diz o teólogo G.M.Bigotto.


Ir. Maria Ivone Weissheimer FDNSC, é irmã da Congregação das Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

De Igreja em Igreja

Há um novo monumento a ser erguido, novos templos a serem criados, novos microfones e novas emissoras a serem oferecidas ao Senhor Jesus no novo jeito de anunciá-lo.

Texto: Pe. Zezinho, SCJ

De igreja em igreja ou de movimento em movimento, alguns cristãos são hoje mais peregrinos do que fiéis, mais errantes do que paroquianos, mais romeiros do que diocesanos. Não se fixam. Costumam ir atrás do mais novo astro da fé. Se o proclamado novo astro da fé entende, ele devolve seus ouvintes à comunidade ou à igreja da qual veio. Se se acha a mais nova solução para o mundo, ou o novo Jesus, ele funda um novo movimento ou uma nova igreja marcada por sua presença, sua imagem, suas palavras e seu pensamento e chama as pessoas para segui-lo. Torna-se mais onipresente do que Deus.

Mais do que “ouçam”, para o novo astro da fé o verbo é “venham”. Mais do que “ajudem os pobres daí”, o verbo é “tragam sua oferta, quando vierem”. Há um novo monumento a ser erguido, novos templos a serem criados, novos microfones e novas emissoras a serem oferecidas ao Senhor Jesus no novo jeito de anunciá-lo. Quem era fiel a outro grupo é gentilmente convidado a ser, agora, fiel ao novo mais novo da fé! Não é proibido ser infiel aos outros. Só não se pode ser infiel a quem o tornou infiel…

Quem não viu este filme? Acontece com frequência vertiginosa. Novas igrejas fundadas há quarenta anos já deram origem a cinco ou seis outras e os fiéis, que não eram assim tão fiéis, porque já tinham deixado sua primeira igreja para irem ouvir o, ontem, mais novo pregador da igreja verdadeira, agora vão ouvir e seguir o mais novo pregador da agora mais nova igreja verdadeira. É a era do convencimento: “vem que aqui tem mais” !

Mais o quê? Na era da oferta e da procura, a nova igreja ou o novo movimento tem mais oferta para o que o fiel mais procura: milagres, consolo, bênçãos, graças, perdão, certeza de salvação! Ligue a televisão e o rádio e preste atenção nos discursos. Lei da oferta e da procura. Você procura e nós temos!…

O novo marketing da fé oferece mais. Se não o fizesse, não teria tantos novos seguidores. Jesus disse que quem o seguisse teria que renunciar a si mesmo e tomar sua cruz. Os novos pregadores oferecem o “não sofra mais!” “traga sua cruz e a deixe aqui, porque depois desse culto, você sairá sem ela, sua dor irá embora”.

A ênfase no imediato, no agora-já, no milagre e na cura serve para milhões de pessoas que precisam urgentemente de um alívio. Movimentos e igrejas que o oferecem enchem seus templos. No dizer de um dos pregadores dessa forma de cristianismo “eles são as igrejas do “aqui-agora” e não do “depois”, “sucesso aqui e sucesso depois”, “vitória aqui e vitória depois!”

Poucos resistem a essas ofertas. Se um supermercado oferece algo mais vantajoso é lá que o freguês irá. Se uma igreja oferece fé mais realizadora é lá que o ex-fiel, agora infiel, irá ser o mais novo fiel! Alternância, emotividade e mobilidade parecem ser características da nossa era. Quem tocar o sentimento, ganhará o pensamento!

Pe. Zezinho, scj é músico e escritor. Tem aproximadamente 80 livros publicados e bem mais de 115 álbuns musicais.